E mais um episódio de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder já está entre nós, o que nos lembra de que estamos chegando na metade da primeira temporada. Depois de dois primeiros episódios introdutórios e um terceiro mais ativo, o quarto capítulo se mostrou bem interessante e com muito mais ação na sua trajetória. Os diálogos estão mais trabalhados, temos uma trama mais ágil em seu desenrolar, porém um núcleo parece ter ficado fora de tom em contraste com a construção do episódio no seu “todo”.
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Em A Grande Onda retoma alguns ganchos deixados no episódio anterior. Apesar de ter incluído núcleos que ficaram de fora do capítulo antecessor, o episódio quatro se mostra um dos melhores por ter conseguido entregar bons diálogos, boas sequências de ação, muita tensão, além de conseguir avançar de forma fluida sem que a duração que ultrapassou um pouco mais de uma hora seja enfadonha. O triunfo do quarto capítulo é sem dúvidas, o ritmo que tem sido mantido para que o público possa conhecer mais sobre os personagens sem parecer algo caótico, expandindo para mais referências do universo de J. R. R. Tolkien.
Os Anéis de Poder tem um roteiro bem amarrado e a maneira como ele tem trabalhado as informações que transmite em tela é interessante, pois a produção parece ir para um caminho e quando nos damos conta nos entrega outra coisa. Assim como diz o personagem Halbrand (Charlie Vickers), “as aparências enganam”, uma visão que condiz muito com o enredo da obra. Ou seja, podemos ter nossas teorias sobre a verdadeira identidade do Estranho (Daniel Weyman), de Adar (Joseph Mawle) ou até mesmo de Halbrand, mas é certeza de que a série não vai mostrar tudo tão rapidamente.
Por falar de Adar, fica um ponto de reflexão para os produtores que o introduziram de uma forma que não surpreendeu. Algo espetacular visto no terceiro capítulo é a tensão da apresentação dos Orcs. Isso mesmo, o processo de aparição deles foi tão bem trabalhado, toda aquela simbologia de rastros de destruição deixados por eles nos locais que passavam, a luz do sol sendo evitada por eles, o ambiente escuro e toda essa sensação tensa e sombria que só de falar neles já dá um “siricutico” na espinha é algo que não temos com a identidade de Adar. E o mais bizarro, ele é um elfo idolatrado pelos Orcs. Ok, não era algo esperado, mas não foi a grande revelação como foi “prometido” no final do episódio três.
Temos a noção de que ele é uma grande ameaça, porém a primeira impressão do personagem de Joseph Mawle transmite a sensação de que ele poderia ter sido melhor aproveitado em cena do que se amparar em escolhas narrativas clichês e mal pensadas. Tem potencial aqui, mas ele vai precisar de um tempinho de tela a mais para mostrar para o que veio.
O núcleo de Adar se divide ainda com Arondir (Ismael Cruz Córdova) e Bronwyn (Nazanin Boniadi) nas Terras do Sul. Após a revelação de quem é Adar – nada tão impactante, mas OK -, temos que dar atenção para Theo e sua saga em busca de mantimento e o seu segredo, guardando consigo a espada quebrada com a marca de Sauron e tentando se esconder dos Orcs – essa sequência de cenas em que o garota brinca de esconde-esconde e quase é pego pelos monstrengos, rende bons momentos de tensão, porém, foge um pouco da lógica, mas ele é salvo por Arondir na floresta — cena impecável que contempla uma bela tomada do sol nascendo, salvando o garoto, a mãe que vai em busca de Theo e do Elfo – os orques que queriam atacá-los são impedidos pela luz do sol. Uma revelação importante, existe seguidores, homens, de Saron dentre os refugiados liderados por Bronwyn.
Pelo o que podemos conferir em A Grande Onda, vemos que existe um ideal de que os povos diferentes devem se unir quando um mal maior assombra a tranquilidade e o bom andamento das coisas. Em O Senhor dos Anéis, além da história de heróis improváveis na figura dos hobbits, um conto sobre uma grande aliança entre homens e elfos que já existiu e que precisa ser retomada a fim de travar uma batalha contra o ressurgimento de Sauron. Anéis de Poder não entregaria nada diferente disso que já foi mencionado, até mesmo porque vemos um cenário de desunião, hostilidade circundado de segredos, profecias e mistérios.
No quarto episódio, somos levados de volta para Khazad-dûm, é um dos núcleos mais legais, divertidos e que tem uma sensação de família quando estão em tela em Os Anéis de Poder. Porém, o núcle ficou deslocado, pois não o vemos no episódio anterior e o contexto pelo qual eles são inseridos ficou meio vago. Mas não podemos reclamar das atuações porque a personagem Disa (Sophia Nomvete) nos entrega momentos emocionantes e vemos a retomada da interação entre Durin (Owain Arthur) e Elrond (Robert Aramayo), que estão muito bem em tela e isso faz com que o telespectador se sinta mais próximo de todos eles e tenha um afeto diferente por conta da fofura dos Anões. Todavia, a inclusão desses tres personagens serviu para introduzir algo super importante e que ganhará mais desenvolvimento nos próximos capítulos, a descoberta do mithril.
Sob outra perspectiva, o quarto episódio também mostra a tensão e hostilidade crescente entre Númenor e os Elfos. Boa parte das discussões políticas da série acontecem na ilha, o que é algo positivo para manter sua relevância na trama. Aqui, o problema é a teimosa Galadriel (Morfydd Clark) e sua falta de compreensão dos trâmites locais que a deixam sem direção, assim como o conflito no reino. É inegável que o que não falta na protagonista esquentadinha é determinação e foco, mas a sua falta de tato atrapalha às vezes. A sensação que temos é que ela avança um passo e volta três quando se trata de atingir o seu objetivo. Além disso, ela se mostra um tanto arrogante e insolente fazendo com que o tiro saia pela culatra.
No momento em que a loirinha poderia ter feito um acordo com a rainha-regente de Númenor, Míriel, o seu orgulho se sobressaiu e ela acabou presa. É interessante ver que a série soube colocar duas atrizes que interpretam personagens fortes e determinadas e que contracenam muito bem. Ambas possuem personalidades fortes e que batem de frente uma com a outra, além do fato, é claro, de serem semelhantes. E o que tanto era esperado por Galadriel, acontece. As duas conseguem chegar num denominador comum após compartilharem seus segredos como o segredo de Miriel, sobre o fato de seu pai ter tentado retornar às tradições élficas, e sobre sua visão ao tocar o Palantir e ver a queda de Númenor.
O destaque do momento, além das atuações impecáveis, são as cenas da visão que são lindas e bem feitas com as folhas da Árvore Branca caindo como um presságio do fim, e também, dando uma tensão a mais com a imagem da própria bola de cristal rachando e repartindo a realidade. A série, mais uma vez, traz o artifício de usar sinais, visões e ou pressentimentos de algo próximo está para acontecer e esse senso de urgência e tensão é mantido. Até o momento, tem dado certo e o sensorial/emocional de quem assiste consegue ficar abalado. Contudo, a conclusão do episódio se mostrou positiva, pois a rebeldia e ousadia da elfa foi direcionada para o objetivo certo. E agora, a série deve partir para sua aventura sombria em direção a Sauron.
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