O Silêncio da Cidade Branca | 10 diferenças entre o filme e o livro

Diferente do filme, que é apressado e não surpreende, o livro é de tirar o fôlego

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Parte de uma trilogia com mais de 1 milhão de livros vendidos, O Silêncio da Cidade Branca une mitologia, arqueologia, segredos de família e psicologia criminal em um thriller macabro e emocionante publicado pela Intrínseca.O livro já tem uma recém lançada adaptação disponível no catálogo da Netflix. O best seller consegue fisgar o leitor do começo ao fim da leitura. É rico em detalhes e muito coerente em cada capítulo. Apesar disso, o filme é uma adaptação capenga e peca ao contar a história de forma apressada e sem coerência que são muito importantes para entender a trama.

Veja também: Resenha | O Silêncio da Cidade Branca e Crítica| O Silêncio da Cidade Branca

Veja 10 das diferenças na lista abaixo. Cuidado, contém spoilers a seguir.

A modificada Estibaliz

Diferente da construção do longa, os personagens tem mais profundidade no livro. Estibaliz é baixa e tem cabelos ruivos até o queixo e, com frequência, está de cabelos presos num rabo de cavalo. Lembrando que, quando ela está nervosa ela desfaz e faz o rabo de cavalo e anda de um lado para o outro. Não fala palavrões e percebe que existe um envolvimento entre a subdelegada Alba e o seu parceiro e inspetor Unaí. No filme, dá a entender que ela gosta de Unaí, mas no livro percebemos que eles são quase como irmãos. Outra coisa muito interessante, no livro ela está noiva e no filme ela está solteira. 

Unaí e os excluídos

Unaí, é um quarentão que acha que poderia ter impedido o assassinato de sua mulher que estava grávida. Diferente do filme em que ele fala que era um filho, na verdade é um casal de gêmeos. Após esse trágico acontecimento, ele ficou depressivo, recluso e decidiu estudar perfis, se tornando um dos melhores perfiladores criminalistas. Sempre retratado com roupas escuras, mostra o luto que ainda vive pela perda precoce pela família. Era um dos seguidores de Tasio e após a prisão do próprio, Kraken, como é chamado nas redes sociais e pelos amigos, Unaí inicia uma corrida contra ao tempo para evitar que mais gente morra. Conta com a ajuda de Golden Girl e MatuSalem para encontrar o verdadeiro assassino dos crimes duplos. Porém, no filme nenhum deles aparece.

A apressada revelação de Alba

A subdelegada Alba, tem cabelos negros e usa tranças no livro. Já no filme ela é loira e de cabelos curtos e soltos. No livro sabemos que ela é casada, esse marido é um mistério até os últimos capítulos do livro. Logo, já sabemos que ela é esposa do jornalista Mario Santos, o Assassino do Sono.

Além disso, Alba é uma das vítimas do assassino do sono. Também tem 40 anos, embora no filme não fique claro. Quando se torna vítima, sem o assassino perceber, mastiga as abelhas e no filme, ela se desespera. No final, Tasio e Ignacio estavam no local onde Mario usava para preparar suas vítimas, vivos, mas Tasio estava desidratado e precisava de ajuda. E saem vivo de lá. No filme, não sabemos o que acontece. Unaí é baleado e fica internado, o avô dele acredita que passando maças sobre ele, irá curá-lo. E tem todo uma construção em volta disso que no filme é brevemente retratado.

Personagens mal explorados

Os gêmeos Ignacio e Tasio Ortiz de Zárate, são idênticos e têm uma participação bem mais relevante e interessante no livro. Quando pequenos tinham a mania de trocar de identidades. Dividiam as namoradas e seguiram rumos diferentes. Ignácio se tornou policial e Tasio uma celebridade local, famoso arqueólogo que tinha um programa de televisão até ser preso. Na cadeia, escreveu e vendeu roteiros bem escritos para HXO. E seu gêmeo, Ignacio saiu da polícia, fez sucesso na televisão também e tem se saído muito bem em negócios gastronômicos. Diferente do filme, Tasio está com a aparência maltratada e é impulsivo, arrogante e um tanto quanto esperto. Foi protetor de um hacker na cadeia, MatuSalem. Não deixou o garoto virar “brinquedo de bicha” e em troca, tem a lealdade do garoto que ajuda Unaí a descobrir o paradeiro dos gêmeos quando desaparecem. No filme, são chatinhos e não tem nenhuma graça.

Os caminhos de Nancho Lopidana e Mario Santos também são mal constituídos no longa, enquanto no livro, é um trabalho difícil e intrigante. É um trabalho de formiguinha e que realmente vemos uma investigação bem elaborada, “curadoria de provas” e fatos que levam a várias teorias, que fazem sentidos inicialmente, mas que são logo descartadas. Estibaliz e Unaí são focados e estão determinados a encontrar o assassino e traçam rotas e meios para permanecerem na linha de investigação correta. E se surpreendem quando descobrem a real identidade de Mario Santo

O capenga Mario Santos

Mario Santos é um dos melhores vilões (usurpou uma identidade que não era sua, matou o próprio amigo… aprendeu direitinho com a Paola Bracho de A Usurpadora, hein!?), que teve sua representação cinematográfica capenga. Só temos ciência de que ele é o assassino, marido de Alba, trigêmeo de Ignacio e Tasio e seu verdadeiro nome é Nancho Lopidana e só sabemos disso tudo no final do livro. Diferente do filme que já vai contando os detalhes mais intrínsecos e arrepiantes já de cara. Decepcionante.

Liberdades Criativas

No início do filme, Unaí vai interrogar Tasio na prisão e quando ele chega lá, Mario estava de saída. Mas no livro não tem essa passagem, assim como também conta que Unaí vai ao encontro de Tasio, sozinho e no filme ele está acompanhado de Estibaliz. Unaí, no longa, está sendo seguido a todo momento, recebe fotos em envelopes que comprovam que tem alguém atrás dele. Porém, no livro não tem ninguém seguindo-o. No filme, Esti e Unaí são afastados do caso, mas no livro isso não acontece.

Também na adaptação, Unaí comemora seu aniversário de 40 anos com os amigos, porém no livro, ele passa o dia com a avô. No longa, Unaí e Estibaliz prendem o pai oculista da moça de 20 anos que foi assassinada e ele acaba se tornando um dos suspeitos. Ele tinha recortes de jornal dos assassinatos de 20 anos atrás e ao tentar descartar, é preso por Esti e Unaí que erram, pois eles estavam na Festa da Blusa no dia da morte da filha e os inspetores são advertidos em relação a isso.

No livro, quem conta aos quatro ventos que Unaí é o Kraken, é Nerea, a amiga de quadrilha de Unaí que fica furioso ao saber que roda vez que perguntam sobre quem é Kraken e ela mostra a foto dele. Já no longa, a foto dele é postada com a hashtag Kraken e todos ficam sabendo.

A imersão do livro

O livro conta com um detalhe interessante que não foi transportado para o longa. Cada abertura de capítulo se inicia com uma postagem, um conselho, uma provocação de Tasio pelo twitter. Esses tuites são postados com a hashtag #Kraken, para que Unaí seja direcionado por elas, pois Tasio se prontificou a ajudá-lo a desvendar o crime. Mas assim como Unaí, o leitor desconfia das boas intenções de Tasio que está preso há 20 anos por um crime que supostamente não cometeu. Porém, alguém do lado de fora, vem executando fielmente os assassinatos de duas décadas atrás, bem perto da saída de Tasio da cadeia.

Além disso, cada descoberta, é conjunta. Assim como os personagens, nós leitores vamos descobrindo tudo ao mesmo tempo. Vale ressaltar que a autora conta duas histórias simultaneamente e de início paralelo que no final se encontram. A mãe de Tasio e Ignacio, Blanca, casou-se com um homem muito violento e que após ele descobrir um boato sobre ela, passou a tratá-la muito mal. Como Blanca, se consultava com o ginecologista, Dr.Urbina, eles acabaram se afeiçoando e tendo um romance que gerou uma gravidez. Desconfiado, Javier Ortiz De Zárate, marido de Blanca, começa a seguir os passos da mulher e acabou descobrindo, porém, se fingiu normalidade. Num dia de nevasca muito forte, com 32 semanas de gestação, Blanca tem hemorragia e é preciso que o parto seja feito logo. Dr. Urbina e sua enfermeira Felisa vão até a casa de Blanca e fazem o parto. Inicialmente, eram duas crianças, surpreendentemente tem um terceiro bebê que não se parece nem um pouco com os gêmeos. Enquanto Tasio e Ignacio são idênticos, loiros como a mãe, o terceiro bebê é ruivo como o doutor Urbina e para que o marido de Blanca não descobrisse a traição, Felisa deu o menino para uma família que não conseguia ter filhos. No entanto, Dr. Urbina desapareceu após o parto. E essa história é mal contada no filme. É relembrada pelo avô de Unaí, porém, no livro é contada pela tia avó de Unaí, Felisa, a enfermeira Felisa coincidência, não?

Narrativas desnecessárias

Em nenhum momento no livro vemos que Alba tem relações com o marido, algo que é colocado no filme e não faz sentido algum. O longa perdeu tempo com flashbacks desnecessários e com cenas que não tinham a menor necessidade como esta. Outra coisa é o corte seco e rápido e o pulo de uma cena para outra que não fazem sentido e deixa o telespectador confuso, enquanto no livro, os capítulos (que são como as passagens de cena) são fluidos, coerentes e te prendem a atenção.

O excluído avô de Unaí

O avô de Unaí é uma figura presente e ajuda muito no decorrer da trama, mas no longa não tem tanta participação. Um detalhe legal é que no livro, para proteger Unaí, Estibaliz pede ao seu irmão Eneko (antes dele morrer) um bloqueador de substâncias, pois ela acredita que o assassino virá atrás de Unaí. Eles brincam por causa disso, pois de forma sorrateira, Esti coloca esse bloqueador no café de Unaí que só percebe depois quando está conversando com o fantasma de sua falecida cunhada, Martina.

O filme ganha em detalhes visuais

Embora o livro seja maravilhoso e muito bem escrito, rico em detalhes, mescla o suspense, os crimes macabros com a cultura, com a mitologia de forma perfeita e muito coerente faltam detalhes que enriqueceriam mais, como um mapa, um glossário para entender as palavras difíceis, imagens para saber o que é um eguzkilore e os nomes repetidos a exaustão. Porém, com o filme é possível ter uma ideia dos pontos turísticos do País Basco e etc. Mas ainda assim, surpreende e é de tirar o fôlego. 

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