A dependência química é uma questão urgente que afeta muitas famílias no Brasil e no mundo, nos dias atuais. A droga não diferencia cor, religião e muito menos classe social. São vidas viradas do avesso e adoecidas, tanto do dependente quanto dos que se relacionam com ele. Tratamento médico especializado e afeto são essenciais na busca da cura.

Este é o mote da série Original Globoplay Onde Está Meu Coração, que chega à plataforma no dia 04 de Maio. Neste novo trabalho em parceria, os autores George Moura e Sergio Goldenberg e a diretora artística Luísa Lima apresentam os conflitos que uma família enfrenta por causa da dependência de drogas da filha primogênita. Na história, Amanda (Leticia Colin), uma jovem médica bem-sucedida e idealista, vinda de uma família de classe alta, que se deixa levar pelo prazer fugaz das drogas sem conseguir mais dar conta da sua vida profissional e afetiva. Ao lado dela, seus pais, a executiva Sofia (Mariana Lima) e o médico David (Fábio Assunção), junto com seu marido, o arquiteto Miguel (Daniel de Oliveira), e sua irmã Julia (Manu Morelli) também acabam envolvidos quando a situação de Amanda perde o controle. Quando se revela a fragilidade da estrutura familiar, até então inquestionável, todos precisam enfrentar seus dramas pessoais.

As obras de Moura e Goldenberg têm em comum um olhar especial para a exaltação do papel determinante da mulher na sociedade, com fortes e sensíveis heroínas. É assim em O Canto da Sereia, O Rebu e Onde Nascem os Fortes. Agora, em Onde Está Meu Coração, reafirmam o fascínio por personagens mulheres com todas as suas complexidades e com um denominador comum: o poder do amor feminino. Este olhar feminino ganha amplitude com Luísa Lima, que faz sua estreia como diretora artística.

No dia 03 de maio, o Tela Quente, da TV Globo, exibe o primeiro episódio da obra, que chega na íntegra à plataforma no dia 04 de maio. Abaixo, um pingue-pongue com os autores George Moura e Sergio Goldenberg e a diretora artística Luísa Lima.

– Qual foi a inspiração para a série? O que os levou a escrever sobre o tema?

George Moura: Para qualquer que seja a plataforma, eu me dedico sempre a escrever sobre temas que são, de alguma maneira, reflexões do comportamento humano. A ideia de tocar a sensibilidade das pessoas, para que elas olhem sobre alguns aspectos da vida que, às vezes, por seus cotidianos, elas não têm o habito de olhar, é uma das funções da dramaturgia. Aprendi isso com os poetas, que têm o dom de escrever sobre algo do cotidiano, fazendo com que você passe a enxergar as coisas de uma forma nunca vista antes. Um dos princípios para a escolha do tema central desta série é simples: todos nós conhecemos alguém ou já ouvimos alguma história que envolva a dependência química, seja a de bebidas, drogas ou qualquer outro tipo. E isso me fez pensar que esse é um terreno vasto, grande e promissor para construir uma história. ‘Onde Está Meu Coração’ é uma série sobre uma médica chamada Amanda, envolta em um grande problema com a dependência química, que mostra uma questão inerente a qualquer pessoa nessa situação: ela não adoece sozinha; as pessoas à sua volta, familiares e amigos, adoecem junto. E isso é importante de ser retratado e discutido em uma obra de ficção.  

Sergio Goldenberg: Eu convivi com famílias que viveram problemas como o da Amanda, nossa protagonista. É muito triste e difícil. O dependente químico, muitas vezes, não admite que deixou de ser simplesmente um cara animado e festeiro. Amigos e a própria família começam a evitá-lo, a fugir, a esquecer. Pessoas com um quadro como o da Amanda ficam ingovernáveis e os riscos são muito grandes. Ela para de pensar no trabalho, na família, em todos os compromissos. A única preocupação é com a próxima dose. A ideia é mostrar como a dependência toma conta de Amanda e que não existe uma única solução. ‘Onde Está Meu Coração’ mostra as dificuldades de recuperação, mas é principalmente uma história de redenção.

 – Por que conduzir esse tema por uma personagem da classe média alta?

George Moura: É importante tratarmos desse assunto em uma classe social em que as necessidades básicas de um ser humano não são um problema, em que estão resolvidas, para mostrar que a dependência química não é uma questão de sobrevivência. Não é porque a pessoa não tem uma condição financeira favorável, não tem oportunidades, que ela recorre à bebida ou à droga. A classe média alta, em geral, tem estabilidade financeira, mas, mesmo assim, busca a droga. Há um buraco, um abismo existencial de uma ordem que não é material.  

Sergio Goldenberg: A dependência química é comum em todas as classes sociais, mas as pessoas não falam sobre isso, têm vergonha. É como uma derrota pessoal.

– Que estética define ‘Onde Está Meu Coração’ e suas locações?

Luísa Lima: A estética da série obedece a uma lógica emocional, psicológica e sensorial. Busca um discurso dramático em que as relações familiares e a subjetividade da Amanda nos guiam, exaltando a variação, a incompreensão e a incompletude dos comportamentos e da vivência humana/social. A fotografia e os recursos de câmera evitam saltar além dos atores e dos dramas vividos. Sugerem, antes, um olhar íntimo, observador e também paranoico ou reflexivo. Mostramos um drama de intensas angústias, brigas, delírios, dificuldades de relacionamento e luta contra o próprio desejo contraditório de alívio e destruição. As locações contribuem para a construção de um mundo ora frio e impecável, tal como o apartamento ‘brutalista’ e conceitual de Miguel e Amanda, como também estampa a ideia de afeto familiar e memória na casa angulosa de Sofia e David. O hospital traz dimensões grandiosas, assustadoras, realçando a ideia de pressão da vivência médica e da rotina ao mesmo tempo cruel e trivial da morte.

– Como é dirigir uma série com histórias tão marcantes, com caminhos tão diversos para cada personagem?

Luísa Lima: Tenho a preocupação em olhar para esses personagens tentando compreender suas questões, suas dificuldades, seus fracassos, sem julgamento. Não vamos aliviar a droga, nem ‘glamourizar’ seu uso, mas desejamos gerar empatia com o público, sobretudo porque a série fala das dificuldades que uma família enfrenta com um ente dependente químico. Isso é muito real, muito próximo das pessoas. 

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