Já faz um tempo que a televisão brasileira tem apostado nos reality shows que promovem entretenimento e geram uma grande audiência. Mas também podemos perceber que com o passar dos anos esse “entretenimento” que tem sido promovido por esses programas têm gerado muitas polêmicas. Se antes eram a oportunidade para conhecer anônimos e lançá-los à fama como Grazi Massafera e Sabrina Sato, hoje alguns desses programas são palco da destilação de ódio e violência gratuita em rede nacional. A pergunta que fica é: Qual o tipo de entretenimento queremos consumir?

Já não é de hoje que programas como o BBB fazem sucesso na mídia e a cada ano, uma nova edição lança luz a pessoas que sonham com uma mudança de vida, com a fama e até mesmo com uma conta bancária recheada. Não apenas isso, a indústria dos reality shows teve uma grande virada, pois com o avanço das tecnologias, das redes sociais e o marketing poderoso, muitas marcas querem anunciar e estarem cada vez mais presente na vida das pessoas que consomem esses programas. Se você parar para analisar, a C&A está sempre em evidência, pois é uma das empresas patrocinadoras do BBB e que consequentemente se torna essencial no nosso guarda-roupa também.

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C&A tem presença garantida e gera muita identificação com o publica / Reprodução

No entanto, se a exposição gerou pontos positivos, também foram postas em destaque algumas atitudes que não deveríamos permitir como a agressão, o racismo, o preconceito, a violência não apenas física ou sexual, mas a psicológica e a humilhação. Será mesmo que o conteúdo que queremos ver é baseado nessas atitudes?

Atualmente, a edição do BBB tem dado o que falar desde quando começou. A vigésima segunda edição está fria em relação ao que tem entregado e isso porque o elenco escolhido não quer cair na malha fina do público e sofrer o temido cancelamento. Com um grupo de participantes desprovidos de carisma e simpatia, o que vemos é um show de horrores e polêmicas atrás de polêmicas, porém, a data de hoje foi o fim da linha para uma das participantes.

A última segunda-feira (14/2) apresentou um dos piores momentos da atual edição do BBB. Uma das dinâmicas do programa é o Jogo da Discórdia que tem o objetivo de esquentar o clima antes da eliminação. A dinâmica posta em prática no último programa era de um participante que iria acusar outro confinado e teria que escolher uma plaquinha com uma acusação, explicando o motivo e, em seguida, Tadeu perguntaria para o restante da casa se eles concordam ou não. Se a maioria escolher ‘sim’, o acusado leva um balde de água SUJA. Se a maioria escolher ‘não’, o acusador leva um balde de água.

É óbvio que o atual elenco é desprovido de carisma e qualquer outro atributo que possa gerar empatia pelo público, mas durante o jogo de ontem, algo parecia exageradamente fora do lugar. O alvo de quase todos os brothers foi a participante Nathália que acumula momentos de altos e baixos nesta temporada – pode-se dizer que é um alvo fácil, já que está em seu terceiro paredão, de quatro no total. Envolvendo baldes de água suja, os confinados não pensaram duas vezes antes de molharem a sister inúmeras vezes, um ou outro sentiu algum tipo de empatia por Nathália – talvez,  o Douglas, que ao fim da dinâmica negava qualquer tentativa de molhar a sister e que foi falar com ela após o jogo. Infelizmente, nem Lina e Jessilane, que eram vistas como as “comadres” junto de Natália, tiveram qualquer tipo de simpatia pela modelo.

Quarto Paredão do BBB 22 é entre Arthur Aguiar, Bárbara e Natália | BBB22 |  Gshow
Nathalia está em seu terceiro paredão acompanhada de Arthur e Barbara / Reprodução

Se lá dentro, eles acham que a jovem vai sair, estão enganados, pois pelo andar da carruagem ela se tornará a próxima Juliete – foi tão perseguida na edição anterior que levou o prêmio e ainda se tornou queridinha de muitos famosos como a Anitta, por exemplo. Percebe-se que além da falta de carisma, a ignorância reina entre o elenco. Façam as contas, ela já está em seu terceiro paredão, já voltou de dois e vai voltar do terceiro, pois o público discorda da visão de jogo dos participantes. 

A situação piora quando a participante Maria – recentemente esteve em Amor de Mãe -, joga a água com tanta agressividade que acaba acertando a cabeça de Nathália com o balde. No momento, Tadeu perguntou se a sister estava bem e o jogo seguiu. Hoje pela manhã, início da tarde, a sister foi expulsa, mas não porque a direção do programa entendeu aquilo como uma ofensa gratuita e violenta, mas sim porque o público por meio da internet pressionou para que de fato houvesse a expulsão. No contrato que eles assinam antes de entrar é claro e especifica que qualquer ato de agressão pode gerar uma expulsão e contrato rescindido com a emissora.

Maria confessa atitude agressiva durante o Jogo da Discórdia / Reprodução

Não é a primeira vez que Maria age assim. Em outra dinâmica do Jogo da Discórdia, ela coloca uma plaquinha na testa de Arthur, ela não coloca, ela bate. Se é intencional, proposital cabe a Maria responder, mas essas situações passaram dos limites e o pior, falta um posicionamento mais assertivo e ativo da produção do programa ao lidar com esses episódios. O Brasil não esqueceu de Karol Conká ao expulsar Lucas Penteado da mesa e ser asquerosamente cruel com o rapaz. Será mesmo que isso é entretenimento? Estamos evoluindo para uma versão real de Jogos Vorazes ou Round 6?

O que estamos vendo é a mercadorização da cultura, do entretenimento que não se mostra mais saudável e sim um show de sofrimento que tem sido comercializado e infelizmente, a barbárie gera dinheiro e a propagação demasiada do ódio. Sendo assim, podemos relacionar com o que os estudiosos Theodor Adorno e Max Horkheimer falavam sobre a indústria cultural – trata os espectadores como massa, anulando a sua individualidade e tudo, praticamente tudo como economia, politica fundem-se em uma produção artística produzida em larga escala e de baixa qualidade, que adentram os lares da massa da população, mantendo todos conformados. E além disso, podemos citar a sociedade do espetáculo, estudo de Guy Debord que é compreendida dentro do universo capitalista, em que todas as coisas podem ser comercializadas e são envolvidas por imagens. Esse conceito é uma crítica à forma de atuação do sistema capitalista consumista que prega o acúmulo de produtos e de imagens e tudo vira lazer – até a morte vira entretenimento.

A reflexão gira em torno do conteúdo que estamos consumindo e qual o efeito que ele tem em nossas vidas. Buscamos por um mundo com mais respeito, empatia, aceitação e nos deparamos com demonstrações de violência, falta de respeito e de muitas outras coisas na programação brasileira. Outro questionamento é como as pessoas que estavam ao redor dela reagiram quando a agressão aconteceu, ninguém fez nada, o apresentador do programa não fez nada, a produção não fez nada. Isso mostra o quanto estamos naturalizando a agressão e a violência. Precisamos debater sobre isso e logo, pois estamos fazendo da barbárie algo incrível quando na verdade não pode ser assim. Precisamos de mais consciência e menos proliferação da violência e humilhação.

Cenas de racismo/ Reprodução

Pense como sua atitude afeta os outros. Sabemos que dentro do confinamento as emoções, a vivência é tudo diferente e sentido de uma outra forma que não vivemos aqui fora, no nosso contexto real. Não vamos perpetuar a violência e a falta de humanidade dentro e fora da televisão.

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