Crítica: Power Rangers- O Filme (2017)

Go, go, Power Rangers!

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O bordão é clássico. A série em live-action que se originou no Japão e se alastrou para o outro lado do oceano fez parte da infância de muitas pessoas e já passou por remakes, spin-offs e releituras de todas as formas possíveis. E agora, em 2017, Power Rangers chega às telonas com uma pegada um tanto quanto… Diferente.

Seguindo o padrão de outras adaptações cinematográficas dos últimos anos, o longa dirigido por Dean Israelite foca no surgimento desta nova geração de defensores do planeta em que vivemos de forças extraterrestres cujo principal objetivo é alcançar o poder máximo e destruir quem ousar ficar no caminho. A narrativa não é original – e este definitivamente não é o ponto principal desta obra; aqui, se preza muito mais pela modernização de um conto clássico e pela nostalgia.

Power Rangers
Power Rangers
Imagem: Divulgação

O filme começa em um passado muito remoto – mais precisamente há 65 milhões de anos, na época jurássica. Já na primeira sequência, somos apresentados a um cenário caótico tomado pela destruição – e a ambientação selvagem entra em constante contraste com elementos tecnológicos como naves, armas a laser e armaduras, indicando que o avanço alienígena já era evoluído mesmo naquela era. A destruição eminente marca a ruína destes primeiros Rangers e a quase conquista do universo pela vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks). Entretanto, este arco deve se manter até os dias atuais, e uma resolução ocasional faz com que o time de defensores dê espaço para os novos escolhidos e a antagonista permaneça num estado vegetativo no fundo do mar.

Logo depois desta breve introdução, a história parece encontrar sua voz: de forma muito breve e desnecessariamente acelerada, o público tem a chance de conhecer os cinco novos Rangers – adolescentes desconexos com os mundos em que vivem e que são excluídos por uma massa homogênea de estudantes. Tal escolha para unir os integrantes e entrelaçar suas histórias também não é nenhuma novidade – e contribui para a atmosfera identitária. Mas a partir daqui o roteiro assinado por John Gatins encontra muitos obstáculos e se firma principalmente em diálogos superexpositivos e redundantes.

Devemos lembrar que o envolvimento do público com qualquer produto audiovisual restringe-se aos minutos iniciais de seu primeiro ato. Aqui, somos introduzidos aos protagonistas e ao panorama geral, bem como o incidente incitante que marca a entrada dos nossos heróis em uma jornada sem volta. Isso ocorre, mas num ritmo tão frenético que é quase impossível criarmos laços afetivos com qualquer um deles; eles parecem já se conhecer, mas ao mesmo tempo não fazem a mínima ideia de como interagirem um com o outro; eles se tornam grandes amigos sim – esta é uma das marcas de previsibilidade da narrativa -, mas a evolução das relações de amizade é desequilibrada e destoante.

O time é formado por Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Trini (Becky G) e Zack (Ludi Lin), e todos são unidos por acontecimentos ocasionais que envolvem a explosão de uma mina de ouro desativada. Compreendemos como todos chegaram até lá, mas não conseguimos encontrar um motivo sequer que faça jus à convergência dos eventos. A inconstância é tamanha que, enquanto em uma sequência Jason e Billy mal se entreolham, na outra eles já estão fugindo das autoridades da cidade de Angel Grove, divagando sobre o que encontraram nas entranhas de uma montanha de pedras.

Crítica Power Rangers
O time de Power Rangers.
Imagem: Divulgação

O foreshadowing, característica que permite aos espectadores preverem de forma coercitiva e envolvente as situações decorrentes, firma-se constantemente como simulacros e fórmulas da série de TV, que em nada adicionam para a complexidade da trama e que são construídos de forma equivocada no filme; é de esperar que os momentos de virada estejam bem delineados – e podemos inclusive compreender muito bem a jornada do herói com as etapas pelas quais os Rangers passam: negação, aceitação, treinamento, enfrentamento, decadência e ressureição.

Mais uma vez, todos estes elementos poderiam ser explorados de forma a tornar Power Rangers um filme competente. Mas a falta de equilíbrio entre os atos deixa a desejar e rouba o foco da própria história. Até mesmo a aparição de Bryan Cranston como Zordon – um ex-Ranger cuja essência está presa à maquinaria de uma nave espacial – não é o suficiente para elevar o nível do filme. Seus diálogos, ao contrário da idealização metafórica própria de um arquétipo de guardião, são vazios e desconexos com os acontecimentos que vemos em cena.

Resenha Power Rangers o filme
Bryan Cranston como Zordon.
Imagem: Divulgação

Vale citar aqui que a atuação de Banks como Rita Repulsa é essencialmente escrachada. Claro que não se pode esperar muito vindo de uma vilã cujo nome é o supracitado, mas até aqui os erros parecem encontrar um novo nível. A construção das cenas de batalha é interessante, perscrutada com slow motions e diegeses deslocadas, mas seus bordões vilanescos, adornados com alguns tiques nervosos e cacoetes da própria personalidade, saturam demais tais sequências.

Apesar de todos esses deslizes, estaria sendo hipócrita se dissesse que Power Rangers não é um filme divertido. Sua pretensão por vezes é superestimada, visto que a narrativa adota um tom mais macabro como forma de condensar a trama principal e acaba se transformando numa junção desigual de vários estilos. Entretanto, momentos pontuais – como a utilização da música-tema da série televisiva, o momento em que os Rangers “morfam” e a batalha final entre dois gigantes maniqueístas – ajudam na conexão nostálgica já citada em outros parágrafos entre o público e os super-heróis.

Em suma, Power Rangers têm seus momentos de glória, mas os equívocos infelizmente falam mais alto. É de esperar que uma continuação seja feita – e nós só podemos aguardar uma melhora significativa tanto de linguagem quanto de técnicas artísticas.

 

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