Crítica: A Cura

Um suspense que mesmo problemático, se mostra eficiente

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O diretor Gore Verbinski é um dos nomes mais ecléticos do mercado norte-americano e também um dos mais subestimados. Por mais que a maioria da sua obra não tenha características autorais, não dá pra negar a qualidade do diretor em se adaptar a gêneros diferentes. O Chamado, Piratas do Caribe e Rango são exemplos da eficiência do cineasta. Embora o seu último trabalho tenha sido o terrível O Cavaleiro Solitário, Verbinski mostra o seu talento em sua nova empreitada: o thriller psicológico A Cura. Não que seja um grande filme, mas o diretor consegue tirar de uma trama limitada, uma atmosfera tensa que prende o espectador.

A trama acompanha o jovem investidor da bolsa Lockhart (Dane DeHaan) que deve ir até um sanatório nos Alpes Suíços para encontrar o CEO de sua empresa, que diz ter encontrado nesse local “a cura” para todas as doenças da vida. Durante a visita, Lockhart sofre um acidente de carro e fica no sanatório para ser tratado. Mesmo com o discurso de boa fé dado pelo diretor do local (Jason Isaacs), o jovem percebe que há atividades suspeitas do local, que vão desde o tratamento para encontrar a tal “cura” á Hanna (Mia Goth) a única paciente jovem que fica no sanatório.

Crítica: A Cura 1

O roteiro do filme não oferece nada de novo. Assinado por Justin Haythe (Foi Apenas Um Sonho) – baseado no argumento do próprio junto com Verbinski – acerta em criar um mistério que vai envolvendo o espectador por boa parte da projeção. Pena que mesmo que as resoluções sejam coerentes com a trama e satisfatórias, ela se mostra muito mais complexa do que deveria ser. Além de alguns furos de lógica (personagem que escapa de lugar para outro, sendo que estava acorrentado; falta de guardas em meio a um sanatório), ele acaba se atropelando ao se achar mais inteligente do que realmente é. O maior exemplo está na resolução da própria trama que poderia ser um pouco mais clara, mas o texto insiste em dar pouco a pouco, quando percebemos que ela é bem simples. É um roteiro que tem seus acertos, mas tem os seus erros ao subestimar um pouco a inteligência do espectador.

Se o roteiro de A Cura prende pelo mistério, a condução de Gore Verbinski consegue fazer que o espectador fique imerso dentro daquele universo. O diretor cria uma gramática visual muito elegante e inteligente. Sempre com a câmera no tripé, Verbinski junto com a fotografia de Bojan Bazelli cria uma atmosfera ameaçadora que vai do começo ao fim da projeção, utilizando movimentos clássicos e sutis e uma paleta de cores dessaturadas que chamam a atenção, principalmente no uso do azul. E também é notável as rimas visuais criadas pelo diretor, quase sempre há um plano que é a câmera fica na frente de um vidro e desfigura a imagem, que já denota como o universo do filme está se tornando insano. Na verdade, Verbinski não engana o espectador, ele deixa a história em uma linha muito tênue entre o fantástico e o insano. Essa atmosfera deixa o final mais plausível. E há um uso muito inteligente da linguagem cinematográfica: reparem de como o som, a trilha junto com a direção de arte contribuem para a história. O som mostra que tem algo a mais que não está sendo visto, enquanto a arte não fica no óbvio e evita construir um sanatório assustador a primeira vista, pois é uma construção muito bonita que passa paz aos seus pacientes. E a trilha é contida e pontual nos momentos que deve aumentar o nível do suspense. É bom reparar de como Verbinski tem um bom gosto visual, pois há planos em A Cura que são lindos e que diz muito sobre a trama. O trabalho de Verbisnki se torna a grande qualidade do filme.

Crítica: A Cura 2

O elenco está bem, mas como a maioria de seus personagens são arquétipos as atuações se tornam caricaturais. A exceção fica por Dane DeHaan que mostra ser um protagonista diferente do que estamos acostumados a ver. Lockhart não segue a linha do herói do cinema norte-americano: é cínico, frio, sarcástico, egoísta e grosso. E DeHaan consegue passar essas características sem que torne o personagem antipático para o espectador, além de sua fisionomia assustadora funciona durante a investigação do mistério. Jason Isaacs está se divertindo criando o psiquiatra clássico dos filmes dos anos 50. Só faltou o cavanhaque e o charuto, mas mostra um cinismo em sua voz, sempre parece estar escondendo algum segredo e utiliza um sotaque alemão que deixam o personagem mais característico.

Enfim, A Cura está longe de ser um grande filme. Tem vários defeitos na trama em si, mas como experiência audiovisual é interessante. É um bom suspense que tem uma ótima condução.

A Cura estreia dia 16 de fevereiro nos cinemas.

Texto escrito por João Pedro Gibran

Veja a ficha-técnica e elenco completo de A Cura. 

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