Crítica: Deadpool

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Segundas chances em Hollywood são raríssimas. Diretores e atores de pretensas franquias e grandes fracassos que o digam. Normalmente, quem está à frente de uma produção ou projeto que não agrada ao público, seja no comando de um set ou emprestando seu nome e rosto para a divulgação, é quem leva a culpa pelo insucesso e, por isso, banido da futura nova tentativa de fazer certo. Com Ryan Reynolds, foi um pouquinho diferente (ok, esqueça aqui o ocorrido com Lanterna Verde): após ter realizado uma ponta (não dá para chamar mais do que isso) em X-Men Origens: Wolverine (2009), filme que, embora não tenha sido um retumbante fracasso, desceu rasgando a garganta dos fãs dos mutantes da Marvel, Reynolds foi chamado de volta aos estúdios da Fox para interpretar, novamente, Wade Wilson, o mercenário que, naquela ocasião fatídica, deveria ter marcado a estreia do personagem Deadpool nas telonas.

Completamente descaracterizado, o personagem, cuja uma das alcunhas é “Degenerado Regenerado”, foi considerado um dos responsáveis pelo desgosto dos fãs xiitas diante do longa de Gavin Hood. Também fã e leitor, Reynolds reconheceu a bola fora, uniu-se ao coro dos seus pares nerds e iniciou uma campanha para voltar a interpretar Wade Wilson no filme solo do Mercenário Tagarela, já anunciado um ano após a passagem de Origens pelas telas. O apelo deu certo e, após idas e vindas, finalmente a adaptação de Deadpool (EUA, Canadá, 2016) chega aos cinemas (com Reynolds no papel) e, desta vez, como se deve.

A impressão que se tem ao assistir ao filme é que não só o intérprete queria acertar, como o próprio estúdio estava a fim de entregar a melhor adaptação possível para um personagem da Marvel. O desejo não poderia ser outro, visto a má fama que o estúdio tem de entregar filmes fracos protagonizados pelos heróis da Casa das Ideias, impressão que ficou mais evidente após a famosa editora de HQs criar o seu próprio estúdio cinematográfico e elevar o nível das adaptações, ao ponto de criar todo um universo nos cinemas. Além disso, a Fox vinha do pífio desempenho de Quarteto Fantástico (2015), reboot malfadado para o longa da família de super-heróis. O resultado disso tudo é uma produção fiel ao espírito do personagem criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza, no qual Ryan Reynolds e a própria Fox parecem lavar a alma.

Crítica: Deadpool 1

Se as coisas acontecem quando, de fato, devem acontecer, pode-se dizer que Deadpool não poderia ter sido lançado num momento mais apropriado. O humor ácido e constante característico do protagonista cai como uma luva num momento no qual o futuro do gênero “filmes de super-heróis” parece ter atingido o seu ápice e, mesmo que lentamente, parece caminhar para um momento de decaída, algo normal e inerente a todo e qualquer movimento e gênero surgidos ao longo de 121 anos de história do cinema.

O filme, desta vez dirigido por Tim Miller (em sua estreia na direção de longas), descontrói o estilo “filme de origem”, ao inserir o espectador numa ação vertiginosa logo nos primeiros minutos, para só depois (a lembrete do próprio personagem), apresentar a origem do protagonista: diagnosticado com câncer terminal, Wade Wilson (Reynolds) se vê obrigado a recorrer a um projeto secreto do governo norte-americano, que promete eliminar a doença e, de quebrar, atribuir-lhe poderes. Mal sabia Wilson que seu destino seria traçado por Francis (Ed Skrein, de Carga Explosiva: O Legado), médico que passou por experiência semelhante a Wade e que, por conta disso, desenvolveu insensibilidade física e emocional, além de super-força. Resultado de inúmeras torturas e experimentos, Wilson tem o seu corpo degenerado, mas, em contrapartida, desenvolve um altíssimo fator de cura que o livra do câncer e atribui-lhe grandes habilidades. Após um incêndio no local de experimentos, Francis escapa e Wade, tendo sobrevivido ao incidente e sob a alcunha Deadpool, decide partir em busca de vingança, em especial ao descobrir que sua namorada, Vanessa (a brasileira Morena Baccarin, de A Espiã Que Sabia de Menos), corre perigo sob o alvo de seu inimigo.

Crítica: Deadpool 2

A história simples é o ponto de partida para uma série quase ininterrupta de violência, piadas e humor que entrega um ritmo acelerado e dinâmico ao longa e não poupa ninguém. No entanto, para que a produção seja devidamente apreciada, é exigido do espectador familiaridade com as adaptações dos quadrinhos, com o “talento” da Fox para destruir franquias e, em particular, com as histórias do X-Men, uma vez que Deadpool faz parte do universo do grupo liderado pelo Professor Xavier. Acredite: saber mais do que isso é capaz de estragar a agradável experiência de assistir ao filme na telona, o que evidencia aqui que a produção entrega muito mais do que foi divulgado na belíssima campanha de publicidade, que veio aguçando a curiosidade dos cinéfilos, leitores ou não de HQs, desde o ano passado. Bem-sucedida, a produção garante um futuro para o seu personagem nas telonas e redime a Fox que, se tiver aprendido a lição com o Mercenário Tagarela, tem tudo para entregar boas adaptações para os heróis da Marvel, desde que não puxe o freio de mão e respeite aqueles que mais entendem do riscado: os leitores.

Ah, e não saia do cinema até o fim dos créditos! Vale muito a pena conferir tudo até o fim.

Deadpool estreia nesta quinta-feira, dia 11 de fevereiro.

Veja a ficha técnica e elenco completo de Deadpool

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