Crítica: La La Land- Cantando Estações

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Há dois anos, o jovem diretor e roteirista Damien Chazelle apresentou Whiplash: Em Busca da Perfeição e chamou a atenção de todo mundo. Era um longa independente, feito com poucos recursos e em pouco tempo, era visceral e muito bem executado, não foi por acaso ganhou três Oscars (Ator Coadjuvante, Montagem e Mixagem de Som). Chazelle era uma promessa e comprova em La La Land – Cantando Estações (La La Land) que o longa anterior não foi sorte de principiante, ele agora realmente mostra que é um dos diretores mais talentosos do cinema norte-americano.

A história se passa em Los Angeles e acompanha Mia (Emma Stone), uma jovem aspirante a atriz, e Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de jazz frustrado. O que começa como um encontro casual no trânsito se torna em uma história de amor em que ambos aprenderão que devem seguir os seus sonhos, mas haverá sacrifícios que deverão ser feitos para conseguirem seus objetivos.

A história do longa é bem simples na verdade, não há muitas reviravoltas durante a trama e o conflito é básico, mas é um roteiro muito bem escrito, atual e sofisticado. Como o filme foca o tempo todo com Mia e Sebastian, cabem a eles segurarem a narrativa e fazem isso muito bem. Além de bem escritos, ambos são personagens muito carismáticos e verossímeis. E o mais interessantes é que são personagens muito diferentes: enquanto Mia é sorridente, charmosa e otimista, Sebastian é mal humorado, cínico e antissocial. Mesmo esses personagens sendo arquétipos clássicos da Hollywood clássica, Chazelle (que assina o roteiro) cria uma história de amor tão honesta que não tem como não sentir empatia com os personagens.

Continuando no roteiro, é perceptível que há comentários do próprio Chazelle e que ele colocou um pouco das suas frustrações no casal protagonista. Em Mia há certa desilusão, uma dúvida sobre se irá ou não conseguir carreira em Hollywood, o que certamente Chazelle deve ter passado, porém em Sebastian a frustração ainda é maior por ser um pianista de jazz clássico e atualmente ser um gênero pouco conhecido. O comentário sobre jazz já havia sido feito em Whiplash e é repetido, todavia em La La Land pode ser interpretado até como um comentários sobre o próprio cinema, já que o diretor está fazendo um musical do estilo da Hollywood clássica, um gênero que hoje é considerado menos “popular”. Outro ponto interessante do roteiro é como ele lembra a todo o momento que estamos vendo um filme, mas o contexto é muito verossímil, o que se torna fácil para o espectador comum criar uma relação do que está acontecendo em tela. Um roteiro muito inteligente.

La La Land
La La Land: Ryan Gosling e Emma Stone

Se Chazelle já demonstra um grande talento na escrita, o seu trabalho na direção é primoroso, principalmente nos números musicais. A começar pelos primeiros dez minutos, que nos é apresentada a ótima Another Day In The Sun, que serve não só para nos lembrar que é um musical, mas também para entender o tipo de musical que ele é. La La Land é uma grande homenagem aos musicais clássicos da década de 50 e 60 como Dançando na Chuva e Amor, Sublime Amor, então os números musicais são longos e com uma bela coreografia. Como o diretor decidiu filmar em CinemaScope (o espectador vai perceber que a resolução da tela é diferente quando ver), ele utiliza planos abertos para mostrar todo o ambiente e toda a coreografia dos bailarinos e Chazelle dirige os números com maestria. São visualmente maravilhosos- aliás, a Academia tem obrigação de premiar trabalho de direção de fotografia e design de produção do longa, tanto os cenários quanto a iluminação são incríveis – ágeis (montagem magistral de Tom Cross, o mesmo de Whiplash), divertidos e muito emocionantes. Se notarem o trabalho de câmera do longa, ela praticamente dança junto com os personagens. É uma produção que merece ser vista na maior tela que puder e com a melhor resolução possível.

Falando em música, a trilha do longa é linda. Ainda na base do jazz, como na obra anterior de Chazelle, Justin Horowitz cria uma trilha que é muito gostosa de ouvir e que traz todo o sentimento de determinado número. As letras também são ótimas, não são óbvias e são muito sinceras, dizendo muito sobre os personagens. E pra quem não tem muita paciência com musicais pode ficar tranquilo, pois em menos duas horas de projeção La La Land tem no máximo cinco ou sei números musicais. Os personagens não cantam seus diálogos e há um intervalo entre cada numero, que entram de maneira natural no longa.

O elenco em geral está muito bem, porém o destaque fica por conta de Ryan Gosling e Emma Stone. Gosling sempre fez tipos mais introspectivos e fechados e se mostra perfeito para o papel de Sebastian, sempre olhando pra baixo, com um jeito antissocial, de fala mansa e poucos trejeitos. E tem uma excepcional química com Emma Stone, eles se completam na tela. Já que mencionei Stone, ela mostra ser a grande estrela do longa. A sua Mia é simplesmente apaixonante, a atriz mostra que tem presença de tela, é muito expressiva e contém um enorme carisma. Stone tem uma voz muito agradável quando canta, ao contrário de Ryan Gosling (não que cante mal como Russel Crowe em Os Miseráveis, o tom da voz não é dos mais agradáveis, mas nada que atrapalhe o filme).

Enfim, La La Land: Cantando Estações realmente merece todos elogios e prêmios que ele está ganhando. Além de ser um filme de execução impecável, ótimas atuações e músicas lindas, é um material feito com honestidade e paixão por Damien Chazelle, que mostra que é um diretor que merece respeito, se aos 31 anos faz uma produção como essa, imagine o que ele pode fazer no futuro.

La La Land: Cantando Estações estreia dia 19 de janeiro nos cinemas brasileiros.

Texto escrito por João Pedro Gibran

Veja a ficha técnica e elenco completo de La La Land

 

 

 

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