Crítica: Vício Inerente

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Os defensores ferrenhos do grande diretor Paul Thomas Anderson (de O Mestre) dificilmente darão o braço a torcer. Poucos admitirão e muitos dos que não admitirem que o cineasta finalmente cometeu um erro em sua carreira terão de estar muito bem armados na defesa do diretor que, por sua vez, deixa pouco para ser usado em sua defesa, quando os créditos deste seu insuportável Vício Inerente (Inherent Vice, EUA, 2014) começam a subir.

Baseado no livro do escritor recluso norte-americano Thomas PynchonVício Inerente é quase que um “audiobook com imagens”, tamanho o didatismo travado de sua narrativa. Além do ritmo ser vagaroso e desconexo, o artifício da narração é utilizado de forma vaga e exagerada, onde um tom poético ridiculamente falso e covarde (já que não completa e muito menos engrandece o fluxo narrativo do filme) é entregue pela irritante voz de taquara rachada da compositora Joanna Newsom, que aqui faz sua desnecessária estreia como atriz.

Vício Inerente
Joaquin Phoenix em Vício Inerente | Imagem: Warner Bros.

O sempre ótimo Joaquin Phoenix (de Ela – e sim, ele aqui está fantástico mais uma vez) interpreta o detetive particular Larry “Doc” Sportello, um investigador particular viciado em drogas, que tem um decadente escritório, em uma praia da Califórnia, na década de 1970. Quando sua ex-namorada (a estonteante Katherine Waterston, de Aconteceu em Woodstock) reaparece subitamente e informa Doc sobre um plano envolvendo o sequestro de um magnata do ramo de imóveis (seu atual namorado), Sportello começa uma investigação que o leva ao encontro de estranhos indivíduos e facções, como cultos, políticos, cartéis, esquemas de prostituição e a própria polícia.

Talvez, no livro de Pynchon, a trama de Vício Inerente desenvolva-se melhor. Uma obra visivelmente embebida na contra-cultura dos anos 1960 e 1970, nesta versão em celuloide de P.T. Anderson, parece não ter razão de ser. O protagonista, apesar de muito bem interpretado pelo infalível Phoenix, mais parece uma cópia sem graça e não-carismática do eterno “Dude”, imortalizado por Jeff Bridges em O Grande Lebowski (Joel e Ethan Cohen, 1998). E, apesar de não discutir o trabalho e, muito menos, a importância das obras de Pynchon, tenho plena consciência de que o homem também não é nenhum Kurt Vonnegut, este sim um escritor que capturava a essência da contra-cultura literária: a de choque e de eterno atrito com o cotidiano institucionalizado.

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Vício Inerente | Imagem: Warner Bros.

É claro que estamos falando de uma produção de Paul Thomas Anderson. Logo, nem tudo é descartável, mesmo em seus piores momentos. Sua recriação da época captura, com perfeição, a atmosfera de psicodelismo e imprevisibilidade vividos naquele momento e sua direção do elenco é, mais uma vez, excepcional. Além de Phoenix, mais uma vez impecável, Anderson arranca performances viscerais de todo o elenco, em especial do ótimo Josh Brolin (de Oldboy – Dias de Vingança), no papel de um policial linha-dura. Mas a grande revelação do filme é mesmo a bela Katherine Waterston. Em uma performance extremamente madura e sexy, a atriz rouba todas as cenas em que aparece. A sequência em que a atriz, nua em pêlo, discursa um monólogo de mais de seis minutos, é espetacularmente excitante.

No entanto, Anderson desperdiça presenças de nomes importantes como Benicio Del Toro (de Guardiões da Galáxia), em um papel pífio; e de Reese Witherspoon (de Livre), que não tem a chance de repetir a antológica dupla de Johnny & June com Phoenix, já que sua personagem também tem pouco destaque. Outros nomes de peso como Owen Wilson, Jena Malone, Martin Short e Maya Rudolph completam o elenco.

Vício Inerente
Vício Inerente | Imagem: Warner Bros.

Vício Inerente é uma enorme decepção, tanto para os fãs de Paul Thomas Anderson, como também para os admiradores do bom cinema, coisa que o diretor está mais do que acostumado a entregar. Não que seja um horror completo, mas, na carreira de um diretor de seu porte, é um filme que não merece ser lembrado.

Veja a ficha técnica e elenco completo de Vício Inerente

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