A Outra Garota Negra é uma obra sobre diversidade que acerta ao colocar a visão de uma garota negra sobre os pequenos dilemas da vida, enquanto apresenta um mistério totalmente diferente de tudo que já foi feito, mas que acaba dando a sensação de ser pouco trabalhado.
Através de Nella, o leitor é levado ao cotidiano de uma jovem assistente negra na editora Wagner, onde à principio é a unica mulher de cor no escritório. Ressentida pela falta de diversidade no local, e estimulada pelas campanhas a favor de inclusição após os famosos e chocantes episódios da polícia americana contra os negros, Nella deseja uma companheira e fica muito feliz quando Hazel aparece como uma nova assistente. Entretanto, a alegria logo se torna desespero quando pouco tempo depois ela começa a receber bilhetes dizendo para sair da Wagner. Sem saber se são ameaças ou avisos, Nella começa a desconfiar de todos e inicia uma pequena investigação para saber o que está acontencendo- e como salvar o emprego que ela tanto batalhou para ter.
Com essa investigação como ponto de partida, a história apresenta muito da cultura negra e os preconceitos- grande e pequenos- sofridos por eles, principalmente em relação às mulheres. Nesse sentido, Zakiya Dalila Harris faz um trabalho sensacional, entregando aos poucos momentos que se encaixam com os acontecimentos de uma forma nada linear, inclusive nos pensamentos da protagonista, sem perder o sentido em nenhum momento.
Enquanto trabalha o núcleo principal e os acontecimentos críticos que cercam Nella e seus colegas, e a inclusão dos bilhetes, a trama funciona muito bem. Ao mesmo tempo que mostra a assistente, a autora apresenta fatos de cerca de 40 anos atrás, quando um problema que remete a uma das primeiras escritoras negras de sucesso aconteceu e nesses pontos a narrativa é muito instigante.
Entretanto, quando chega o momento de cruzar essas histórias e trazer a resolução, há uma explicação lógica e muito crítica, mas que deixa alguns buracos mal trabalhados no caminho e detalhes não resolvidos. Por alto, o desfecho explica os acontecimentos, porém esquece de alguns pequenos momentos que ficam sem um fechamento satisfatório.
Zakiya Dalila Harris apresenta em A Outra Garota Negra uma idéia muito original, que faz um apelo nada singelo ao preconceito e à falta de empatia com quem o sofre, tanto para os brancos quando para os negros. É um exemplo de representatividade, que só peca em desenvolver pouco o mistério proposto, mas deixa sua marca na literatura.