Em Acordar Outra Vez, Paul O’Rourke é um dentista que vive sua vida no modo automático. Trabalha porque precisa trabalhar e leva uma vida vazia e até mesmo amarga. Por respeitar sua privacidade, o dentista não possui site de seu negócio, contas em redes sociais e nem mesmo e-mail em seu nome- tanto sua conta de e-mails como suas interações em fóruns de beisebol são feitos com nome falso.
Paul vive bem sua vida offline, até o dia em que alguém rouba sua identidade online, criando contas em seu nome e um site para sua empresa. Essa pessoa começa a tuitar e mandar e-mails de uma conta com nome de Paul, fazendo a maioria acreditar que as polêmicas manifestações dessas contas são do dentista. Paul, que não é exatamente uma pessoa social, começa a pirar com essa situação e precisa a todo custo descobrir quem é o culpado desses atos.
Joshua Ferris entrega uma trama bem diferente, com uma linguagem única. O autor usa de muito humor, geralmente ácido, e muitas viagens ao passado para contar essa diferente história. É uma interessante análise sobre a vida, até onde estamos apenas vendo nossa vida passar sem de fato aproveitar dos pequenos prazeres.
Entretanto, essa análise ficaria melhor aproveitada sem os longos diálogos didáticos sobre religião. Fica claro que o caminho para mudança na vida de Paul acaba sendo a religião, visto que ele é Ateu, mas o autor bate tanto nessa tecla que o livro se torna um grande sermão, aliviado apenas pela crítica à sociedade em tom cômico. Esses sermões, junto com as narrativas de Beisebol, demonstram que a narrativa é muito americana, sendo bem aceita por eles e não tanto pelos brasileiros.
Acordar Outra Vez é uma leitura com uma boa moral, porém para um público restrito. Os que não são muito religiosos (independente da religião, pois várias são tratadas aqui) podem se irritar com as longas descrições e os mais certinhos podem se irritar com a narrativa inconstante de Ferris.
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