Resumo

Em Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra vemos um sopro de esperança e fé nas palavras de Green. Embora seja um compilado de resenhas e críticas sobre diversos temas, cada capítulo reflete sobre algo que faz parte da nossa realidade e o modo como encaramos os êxitos e os infortúnios da vida, nos mostra que nem sempre vamos estar dispostos a lutar. Mas aprendemos a baixar a guarda hoje e a levantar e lutar no dia seguinte. Um dos melhores livros deste autor.

Resenha | Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra

O futuro, mesmo com todas as suas inevitabilidades, sempre me parece vago e nebuloso – até não parecer mais. (p.28)

A obra Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra é um livro escrito por John Green, um romancista e vlogger norte-americano, autor do best-seller “A Culpa é das Estrelas” e de muitas outras obras famosas que permeiam o universo Young Adult. Fato é que essa obra não se trata de uma ficção como as demais. Em Antropoceno, John Green reflete sobre temas que vão de Super Mario Kart e o pôr-do-sol a pinturas rupestres e o hábito de procurar estranhos no Google, os ensaios perspicazes e bem-humorados reunidos nesta coletânea são uma celebração genuína da capacidade humana de se apaixonar pelo mundo e algo que chama muito atenção é o fato dele analisar, trazer um background informativo, lembranças da própria vida e avaliar com uma nota o momento ou a coisa que foi objeto de sua observação. É uma visão interessante de se enxergar o mundo e através das colocações de John Green, muitas coisas ficam claras. O livro é publicado pela Editora Intrínseca.

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John Green e seu livro, A Culpa é das Estrela / Reprodução Divulgação

O Livro

O livro tem uma linguagem fluida e é dividido em capítulos curtinhos sobre temas diferentes, mas que na linha narrativa se equilibram muito bem. Escrito em parte durante a pandemia mundial de Covid-19 e baseado em seu podcast de sucesso, Antropoceno: notas sobre a vida na Terra nos guia pelas sutilezas dessa nova realidade e nos dá a segurança de que podemos até desconhecer o caminho que estamos seguindo, mas com certeza estamos em boa companhia. O livro carrega uma sensação tranquilizadora de que tudo tem um motivo por trás e carrega uma história, uma luta, um fragmento de esperança. 

Um dos capítulos mais bonitos é sobre “As pinturas rupestres de Lascaux” que através de uma caverna com várias pinturas, a amizade de um grupo de amigos que sofreu com os horrores da Segunda Guerra Mundial, sobreviveu e conseguiu fazer com que a caverna fosse preservada. São memórias importantes que nos lembram de nossos antepassados e como a evolução tem caminhado até agora. Aqui, Green usa da sua sensibilidade e discernimento e não faz uso de meias-palavras, ele é objetivo ao se aprofundar nos assuntos e diz abertamente aquilo que é necessário e que já sabemos, mas não nos importamos às vezes.

Além de retratar os momentos que nos proporcionam alegria, ele também recorda momentos infelizes da passagem do ser humano na Terra como os capítulos “Ursinho de pelúcia” e “Os pinguins de Madagascar” que são recontam fragmentos de sua vida intercalando situações onde a maldade do ser humano afeta bichinhos indefesos como lemingues e isso nos faz refletir sobre como podemos encarar os absurdos da atual era geológica?

No entanto, sempre que assisto a Os pinguins de Madagascar, penso em como somos invisíveis para os pinguins durante a maior parte do tempo, mas, ainda assim, somos sua maior ameaça – e também sua maior esperança. Nesse aspecto, somos uma espécie de deus – e não um deus particularmente benevolo. (p.157)

Antropoceno

De acordo com o site InfoEscola, a era geológica Antropoceno (antropo = humano do grego + ceno = recente do grego) não tem uma data de início bem definida (provavelmente em algum ponto mediano do século XX), mas que distingue-se do Holoceno por assinaturas antropogênicas geoquímicas, no sedimento, clima e demais formas de vida do planeta. Muitos órgãos internacionais de estudos geológicos ainda não aceitam o termo como oficial, mas uma quantidade significativa de grupos de pesquisa já tem iniciado a popularização do Antropoceno como nova era geológica.

O termo foi proposto pela primeira vez pelo químico holandês Paul Crutzen. Especialista em química atmosférica – ele ganhou o Nobel em 1995 pelos seus estudos sobre a camada de ozônio –, Crutzen estava familiarizado com a forma como a atividade humana estava mudando a composição da atmosfera. O uso constante de automóveis e as altas taxas de emissão de substâncias e fumaças modificaram a composição do carbono na atmosfera, provocando um aumento de temperatura de 1ºC, geleiras derretendo e o nível do mar aumentou em, até o momento, 20 centímetros. Além disso, o ser humano tem modificado fisicamente o planeta constantemente, como as construções de barragens afetando assim as bacias hidrográficas. 

O campo de testes onde soviéticos explodiram quase 500 bombas atômicas -  BBC News Brasil
Vista aérea do ‘Polígono’, em que mais de 400 bombas nucleares foram detonadas / Reprodução BBC News

As grandes cidades são um exemplo do impacto provocado pela ação humana. Segundo uma matéria publicada pelo site Época, multas cidades podem desaparecer devido às condições temporais e a erosão com o passar dos anos. Porém, outras serão fossilizadas por estarem afundando como Amsterdã ou Xangai. Outro detalhe muito importante é a porcentagem de elementos radioativos presentes no planeta, graças a explosões de mais de 2 mil testes de bombas atômicas, essa taxa foi modificada. De acordo com o pesquisador britânico Jan Zalasiewicz, a data do início do antropoceno poderia ser 16 de julho de 1945, o dia do primeiro teste da bomba atômica na história.

Um paralelo que podemos traçar em conjunto com o livro escrito por John Green é que mais do que nunca se tem a consciência de que a nossa espécie falhou em proteger o nosso planeta, a nossa casa. Muito tem sido discutido em relação ao meio ambiente. Pautas sobre Sustentabilidade, Descarbonização, ESG e como governos, empresas, populações e até a tecnologia podem ajudar a preservar a nossa casa, a nossa fauna, a nossa flora. De certo, podemos ter certeza de que entramos em uma nova época geológica. O desafio será adaptar esse novo espaço para nos mantermos bem e para que as próximas gerações não sofram tanto. No capítulo “Grama-azul-do-kentucky“, Green fala da quantidade de agua que é desperdiçada para manter a grama bonita e como isso gera outros impactos que muitos já sentem, como a escassez de água que afeta aproximadamente 40% da população mundial e, segundo estimativas das Nações Unidas e do Banco Mundial, secas poderiam colocar 700 milhões de pessoas em risco de deslocamento em 2030.

Há mais ou menos 163 mil quilômetros quadrados de gramados nos Estados Unidos, mais do que o tamanho de Ohio ou de toda a Itália.Quase um terço de toda a água nas residências do país – água limpa e potável – é usada em gramados. Para crescer, a grama-azul-do-kentucky com frequência precisa de fertilizante, pesticidas e de um complexo sistema de irrigação, coisas que lhe oferecemos em abundância, mesmo que ela não possa ser consumida por humanos nem usada para qualquer coisa além de servir como superfície para caminhar e brincar. (p.232)

O Autor

Dear Hank and John show set • Current Publishing
John Green e seu irmão Hank Green / Reprodução Divulgação

Desde o início da pandemia lá em março de 2020 muitos “fim do mundo” existiram para alguém. Hoje o número de 598 829 não é só mais um número, simboliza pessoas, mães, pais, filhos, filhas, avós, avôs, tias, tios, primos, primas, pessoas que morreram e morrem devido ao coronavírus (COVID-19) que é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. Mas o mundo não acaba apenas morrendo, às vezes o sentido de “fim do mundo” pode ter outras conotações como a de um coração partido, ficar desempregado, enfim, inúmeras possibilidades que no momento podem parecer o fim do mundo – pra mim, seria perder minha mãe. Mas com o passar dos anos, passamos por provações e nos recuperamos e as pílulas sobre a vida de John Green que ele mesmo nos conta de bom grado, reforçam que é preciso ter esperança.

A título de curiosidade, a palavra ‘pandemia’ já fazia parte da vida de John Michael Green ou simplesmente John Green que nasceu em Indianópolis, Estados Unidos, no dia 24 de agosto de 1977. Consagrado por A culpa é das estrelas, é um dos autores de maior sucesso da atualidade. Formado em Inglês e Estudos Religiosos, Green, além de escritor, é um vlogger de grande sucesso, dono de um canal no Youtube com mais de 1 milhão de seguidores. Entre seus livros de maior sucesso estão também Cidades de papel, O teorema Katherine e Quem é você, Alasca? E assim como nós mortais, ele também já teve a sensação de “fim do mundo” como a descoberta do seu transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC. Mas se você achou que ele ou que qualquer escritor possui uma fortaleza para se proteger do apocalipse, errou. Enquanto o mundo esvazia as prateleiras de supermercados e mercearias – faltou até papel higiênico?! -, John Green estocava latas e mais latas de seu refrigerante favorito “Diet Dr Pepper” – e a bebida de nome peculiar tem um capítulo dedicado só para si.

Para alguém que passou quatro décadas se preocupando com pandemias, você não sabe mesmo como elas funcionam.” – Hank Green, irmão de John. (p. 29)

Famoso por histórias adolescentes, Green deixou o anonimato e virou o pop star da adolescência. Em suas histórias, Green sempre buscou escrever e ao mesmo tempo dar características suas, mas a obra que fez com que ele dissesse para o mundo sobre o seu transtorno é “Tartarugas Até Lá Embaixo”, trama de 2017 protagonizada por uma adolescente com TOC e aí a maioria viu a obra como uma autobiografia disfarçada de romance. Esse não foi o primeiro equívoco associado a imagem do escritor. Antes de ser o pop star queridinho dos adolescentes, Green teve que enfrentar a ira de pais conservadores, pois ele disseminava conteúdo sexual… como assim? O sucesso de “Quem é Você, Alasca?” foi tão grande (um tempo depois, na verdade) que foi adaptada pela Hulu e hoje está no catálogo da HBO. Mas o jogo virou com o lançamento de “A Culpa é das Estrelas” e se Green era considerado “famosinho”, ele passou a ser uma febre teen ambulante e mundialmente conhecida. 

Tartarugas Até Lá Embaixo", novo livro de John Green, ganha data de  lançamento no Brasil
Tartarugas Até Lá Embaixo”, romance de 2017 escrito por John Green / Reprodução Divulgação

Apesar dos altos e baixos pelas quais passou, John Green procurou se manter ativo durante a pandemia. É um momento difícil para muita gente e entender que faz parte do processo de evolução de cada ser humano é compreender que tudo passa. Às vezes, é um sentimento coletivo ou não de esperança que te faz seguir em frente, ,as ás vezes pode ser apenas a sua consciência racional te dizendo que precisa reagir. Em Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra vemos um sopro de esperança e fé nas palavras de Green. Embora seja um compilado de resenhas e críticas sobre diversos temas, cada capítulo reflete sobre algo que faz parte da nossa realidade e o modo como encaramos os êxitos e os infortúnios da vida, nos mostra que nem sempre vamos estar dispostos a lutar. Mas aprendemos a baixar a guarda hoje e a levantar e lutar no dia seguinte. Uma obra de não ficção que se presta a analise não só da vida no momento presente, mas com pitadas pescadas no passado, caminhamos para um futuro com mais coragem e sabemos que de um jeito ou de outro, vai dar certo no final.

Conforme envelheço, vou descobrindo que sou apaixonado pelo mundo. (p.17)

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Em Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra vemos um sopro de esperança e fé nas palavras de Green. Embora seja um compilado de resenhas e críticas sobre diversos temas, cada capítulo reflete sobre algo que faz parte da nossa realidade e o modo como encaramos os êxitos e os infortúnios da vida, nos mostra que nem sempre vamos estar dispostos a lutar. Mas aprendemos a baixar a guarda hoje e a levantar e lutar no dia seguinte. Um dos melhores livros deste autor.Resenha | Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra
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