Quando vejo qualquer obra assinada por Dalton Trumbo, tenho a impressão de que o escritor/roteirista não tinha nenhum problema em ser banido. Famoso por ter ficado na lista negra pelo seu envolvimento com comunismo em 1941 (acontecimento que rendeu um livro, escrito por Bruce Cook e um filme indicado ao Oscar protagonizado por Bryan Cranston), o autor já havia tido sua obra Johnny Vai à Guerra proibida no mercado por ser inapropriado, já que o enredo era muito forte para  a época, quando a segunda guerra tinha acabado de estourar.

E não é pra menos, em curtas palavras Trumbo consegue relatar a história mais pesada já vista sobre a guerra, isso por que ele não investe em momentos marcantes das batalhas, e sim no intenso resultado peculiar em apenas um jovem. O próprio autor concorda, na introdução de seu livro, que a proibição da obra fazia sentido.

Renomado roteirista, Trumbo coloca sua experiência com roteiros em sua narrativa, que se dá através dos momentos de lucidez do protagonista e suas memórias. Isso resultou em uma escrita sem vírgulas, que no início é um pouco incômoda, mas ao decorrer da leitura parece intensificar o desespero do personagem.

Joe é a única estrela dessa obra, um jovem obrigado servir na guerra, que acaba sendo gravemente ferido e perdendo as pernas, braços, nariz, olhos e orelhas. Sem poder ouvir, falar, ver e até mesmo se mexer, ele é obrigado a ficar imóvel e confuso por anos, enquanto relembra dos bons momentos da sua vida e tenta descobrir como acabar com seu sofrimento.

A inocência das memórias de Joe é o gatilho para essa história ser tão cruel, é o relato de um jovem que teve sua vida arruinada pela guerra, que nunca mais voltará a viver uma vida nem mesmo remotamente normal, rever sua família ou fazer algo que gosta. Constantemente o personagem pensa em maneiras de se matar- e nem isso é capaz de fazer. Mesmo nos melhores momentos, a narrativa é sufocante e até mesmo um pouco deprimente.

É impressionante como o autor conseguiu ser tão original ao falar sobre um assunto tão utilizado- e conseguir ser o mais certeiro. Johnny Vai à Guerra se transformou numa bandeira contra a luta armada e a violência e em pleno 2017, ainda não vi nenhuma obra sobre a guerra que conseguiu surtir tanto efeito.

A nova edição da Biblioteca Azul, da editora Globo, merece uma menção honrosa. A linda capa é detalhadamente pensada, com uma “tradução” em código Morse no título, um detalhe muito importante no livro.

Resenha: Johnny Vai à Guerra- Dalton Trumbo 1
Capa da nova edição de Johnny Vai à Guerra

Johnny Vai à Guerra é um verdadeiro soco no estômago, mas um soco gratificante e com um propósito.  O simples relato consegue mostrar um lado totalmente novo da violência e cumpre tão bem seu papel, que rendeu um filme igualmente chocante em 1971, que inclusive foi a inspiração para a música One, do Metallica. Ouça novamente e preste atenção redobrada na letra:

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