Sejamos sinceros: por mais que comporte uma aura cult, os filmes da trilogia Mad Max, dirigidos por George Miller em 1979, 1981 e 1985, não são exemplos de cinema de qualidade. Ok, não são um completo desastre e muitas coisas bacanas podem ser observadas nos longas que tornaram o rosto de Mel Gibson conhecido no mundo. Entre as qualidades, estão a criatividade de Miller em realizar grandes sequencias de ação com pouca grana, uma identidade visual marcante e uma história simples, ao ponto de ser universal e, por isso mesmo, de fácil assimilação. Desta forma, o longa-metragem australiano realizado de maneira independente conquistou fãs no mundo inteiro e fez do nome do seu protagonista uma marca.

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Mad Max: Estrada da Fúria | Imagem: Warner Bros

Exatos 30 anos passaram-se desde o derradeiro filme da trilogia, Além da Cúpula do Trovão, e, nesta semana, chega aos cinemas Mad Max: Estrada da Fúria, a nova produção do Guerreiro da Estrada. Ainda sob o comando de George Miller, Mad Max troca de rosto: os olhos azuis de Gibson dão lugar à face carrancuda de Tom Hardy, ator que vem se firmando como astro de ação ao mostrar sua boa forma em fitas como Guerra é Guerra e Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Com exceção da troca ocorrida no protagonista, Estrada da Fúria traz exatamente aquilo que conquistou os admiradores do cinema de ação no final da década de 1970 até a metade dos anos 1980. As perseguições automobilísticas estão lá, bem como o visual arrebatador e toda a identidade cênica característica à cine série. No entanto, mesmo para quem gosta dos filmes originais (caso deste que vos escreve), algo soa muito errado no novo filme e isso é estranho, além de bem decepcionante.

Ao longo dos 120 minutos de projeção, o espectador é bombardeado por uma verdadeira sinfonia de som e fúria, que parte de uma trama extremamente simples: cansada de ver a exploração sofrida por um grupo de mulheres consideradas propriedade de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), líder de um vilarejo onde vivem os poucos sobreviventes de uma terra devastada, Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) realiza uma fuga, com o objetivo de levar as moças a um local chamado Vale Verde e garantir a segurança e felicidade delas. Sentindo-se traído, Joe reúne um exército de jovens guerreiros e fiéis seguidores, e parte em perseguição de Furiosa, a fim de recuperar seus bens. Preso a um dos soldados moribundos de Immortan como uma espécie de “bolsa de sangue ambulante”, Max (Hardy) vê-se no meio de uma guerra particular, na qual precisa posicionar-se num dos lados, para garantir a própria sobrevivência.

Critica Mad Max
Charlize Theron em Mad Max: Estrada da Fúria | Imagem: Warner Bros

Personagens, enredo e conflitos são todos apresentados nos primeiros minutos de Mad Max: Estrada da Fúria que, do seu primeiro minuto ao último, torna-se um espetáculo visual e sonoro hiperbólico, ao ponto de tornar a experiência de assisti-lo algo extremamente cansativo. Mais longo do que os filmes antigos, o novo trabalho de Miller não aproveita bem a sua duração numa tentativa de entregar ao público uma experiência mais rica, algo que a mitologia do Guerreiro da Estrada certamente é capaz de proporcionar. No entanto, o que temos em Estrada da Fúria é a ação pela ação, um desfile de bizarrices que, devidamente explorado, geraria uma obra fora do convencional e, por que não, capaz de alertar sobre as consequências da ação do homem em seu mundo, como boas distopias foram capazes de realizar tanto no cinema, quanto na literatura e em demais mídias ao longo dos anos.

Isso colocado, fica a dúvida: a quem Mad Max: Estrada da Fúria é direcionado? Aqueles que já passaram dos 40 anos e cresceram tendo o Max de Mel Gibson como um herói, certamente são cinéfilos que não se contentam mais apenas com um emaranhado de cenas de ação; já a garotada acostumada aos shows acéfalos promovidos por Michael Bay e companhia podem até curtir a surra em forma de celuloide promovida por Miller, no entanto pode se assustar diante do visual grotesco (e, por isso mesmo, belo) da produção. Desta forma, Estrada da Fúria torna-se uma incógnita, cuja certeza é uma apenas: sutileza não é uma estrada pela qual George Miller transita.

Veja a ficha técnica e elenco completo de Mad Max: Estrada da Fúria

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