Resenha | Nunca Vi a Chuva – Stefano Volp

Originalmente publicado de forma independente em 2017, Nunca Vi a Chuva foi top um da Amazon por mais de 30 vezes. Agora em 2023, a obra ganha uma nova edição pela Galera Record, trazendo uma capa atualizada e uma narrativa que passou por um tratamento textual contendo um aprofundamento nas questões sobre saúde mental do personagem principal

Escrito em forma de diário, Nunca Vi a Chuva apresenta a mente de Lucas, um jovem de 19 anos adotado por uma família rica que possuí problemas de saúde mental. Fechado e parecendo nunca se encaixar, sofre de depressão e já tentou suicídio algumas vezes. Seu relacionamento com a mãe, que o adotou ainda bebê, não é dos melhores, mesmo que ele tenha tudo. Quando ele recebe a notícia de que ela está grávida se vê ainda mais deslocado na família.

Lucas passa por um momento onde é tráido pelas únicas duas pessoas da quais mantinha uma relação mais intíma e chega novamente ao fundo do poço. Pensando em suicídio de novo, é salvo por uma mensagem que mostra um vídeo com uma pessoa idêntica a ele cantando. Obcecado pela semelhança, encontra o jovem chamado Rafael e inicia uma conversa com ele, descobrindo ser seu irmão gêmeo e indo atrás dele no Brasil para desvendar esse mistério.

Stefano Volp narra através dos pensamentos de Lucas em seu diário essa busca, que mostra as diferenças da dinâmica familiar de cada um, sendo uma família rica e uma de baixa renda. Entretanto, o interessante é que Lucas possuí várias questões relacionadas à sua saúde mental e comportamento fechado, sendo o que teve mais condições na vida. Já Rafael, que é cego e cresceu limitado financeiramente, é parte de uma família grande e muito unida, tendo um bom humor impressionante e uma simpatia cativante. Lucas rapidamente descobre que o vazio que sempre sentiu na sua vida é preenchido pela presença do irmão, passando assim por uma enorme história de amadurecimento.

Lucas mora em portugal, porém nasceu no Rio de Janeiro e ao viajar para conhecer o irmão, conhece uma nova parte da cidade, o que entrega para o leitor bastante da cultura carioca. A conhecida familia brasileira enorme e unida é explorada de maneira bem divertida e natural nas páginas, dando um toque interessante à obra.

Nunca Vi a Chuva é um livro curto, escrito de maneira simples e fluída e capítulos rápidos que tornam a leitura agradável. Em uma trama bem simples de cotidiano, o autor consegue abordar questões bem sérias envolvendo adoção, abandono, saúde mental, perdas e relacionamento familiar de maneira profunda, mas sem tornar a obra pesada.