Charles Cullen é um serial killer americano não muito famoso, mas talvez um dos mais intrigantes. O assassino que trabalhou como enfermeiro noturno choca a quem conhece sua história pela frieza e facilidade de seus crimes, matando silenciosamente suas inúmeras vítimas.
Cullen atuou como enfermeiro por 16 anos antes de finalmente confessar seus crimes. Na realidade, alguns deles, já que confessou cerca de 40 assassinatos, mas por declarar não se lembrar de todos, calcula-se que fez em média 400 vítimas. É um caso misterioso e talvez por isso o jornalista Charles Graeber tenha lançado o livro O Enfermeiro da Noite, onde reúne todo seu trabalho investigativo e entrevistas- com o próprio assassino e seus conhecidos-, para tentar encaixar as peças dessa obscura parte da história da medicina.
Veja também: Dossiê | Charles Cullen- O Letal enfermeiro noturno
Obras que relatam assassinos em série não são raras, mas O Enfermeiro da Noite se destaca pelo interessante caso relatado, o minucioso trabalho de pesquisa de Graeber e sua narrativa policial, que trasforma a história em um tipo de investigação para o leitor. A trama desenvolve conforme passa pelos detalhes da vida de Cullen, com uma narração em terceira pessoa de um detetive à caça de um criminoso. Para sustentar os fatos, detalhadas notas aglomeradas no final do livro explicam as fontes dos depoimentos que levaram o autor a colocar essas informações na obra. Entretanto, essa trabalhada narrativa se perde em alguns momentos, caindo no documetário quase maçante, e isso estraga um pouco a qualidade de O Enfermeiro da Noite, mas sem prejudicar muito em um plano geral.
Dividido em duas partes, a trama mostra a criação e psicológico de Cullen, enquanto passa por uma linha do tempo de seus crimes – como uma narrativa comum-, chegando ao momento onde as suspeitas não poderiam mais ser ignoradas e assim a segunda parte se dá perto e pós confissão do criminoso.
Charles Cullen costumava matar silenciosamente seus pacientes, em momentos alegando que queria adiantar os momentos finais daqueles que pareciam sem cura. Para isso usava de medicamentos graves ou doses altas de insulina injetadas nos pacientes ou em suas bolsas de soro durante seu turno, para que morressem, em sua maioria, quando ele não estava mais presente. Por conta de suas questões de abandono, depressão e tendências suícidas por necessidade de atenção, Cullen não era exatamente cuidadoso e francamente, frio como um verdadeiro psicopata.
Usando desse modus operandi por 16 anos, é impressionante como possa ter passado despercebido. Graeber analisa também essa questão, mostrando, com as devidas evidências, como os hospitais deixaram Charles Cullen sair ileso para que não sujasse a imagem do local. São relatos que deveriam, mas na realidade não parecem nada absurdos para quem está familiarizado com alguns casos que remetem a crimes na medicina. Em vários momentos, essa leitura lembra os fatos narrados nas obras de Dr. Christopher Duntsch, cirurgião que saiu ileso durante anos após prejudicar – ou matar-, praticamente todos que operava.
O Enfermeiro da Noite narra de maneira única a vida do serial killer que permaneceu impune durante dezesseis anos, traçando uma linha para chegar em quando finalmente foi detido. Apenas em 2006, quando a polícia uniu seus esforços aos de uma amiga próxima de Charles Cullen, que atuou como informante confidencial naquele que ficou conhecido como o caso do “Anjo da Morte”.