O Brasil acabou de completar seus 200 anos da independência no dia 7 de setembro de 2022. Portanto, ainda é um país jovem, e como tal, suas memórias ainda são bem frescas. Principalmente sobre o racismo e a escravidão.

E desta forma, Marcos DeBrito, apresenta ao leitor uma obra que mistura folclore com um tema que deve ser sempre lembrado, que é da escravidão em seu livro Nasce uma Lenda: O Escravo de Capela, lançado pela Faro Editorial em 2017.

Esta é uma história repleta de terror, não apenas do gênero, mas principalmente em mostrar como os escravos viviam naquela época. E esta amostragem é mais do que dolorida, pois o autor descreve todos os tormentos como eles realmente eram: torturas.

Os livros de época quando retratam a escravidão costumam ser mais leves ao falar do açoite, de como os escravos passavam suas noites e o que comiam. É leve e em nada chega perto de todo o sangue e sofrimento que Marcos relata de maneira impressionante nas páginas de O Escravo de Capela.

Não é apenas a tortura física, mas também a da mente e como os senhores das fazendas além de tirar a pele e o sangue dos escravos, também extinguiam a língua e a cultura dessas pessoas. Eles eram obrigados a aprender de qualquer forma a língua portuguesa e a aceitar de bom grado seus novos nomes e a cultuar Cristo.

São páginas de um cotidiano que em alguns pontos fica um pouco parado, já que a descrição é sobre uma história que envolve terror e folclore. Portanto, o leitor pode até ficar um pouco cansado da narrativa. Mesmo que a dor da escravidão deva ser levantada, isso daria para ser mostrada em apenas dois capítulos. Não é desmerecer os acontecimentos, apenas que isso tudo fica repetitivo.

De qualquer forma, mesmo narrando em um cotidiano com os escravos acordando, trabalhando, indo a missa e voltando para as suas senzalas, as atrocidades estão a cada instante renovadas de alguma forma. E é isso o que realmente machuca de todas as formas o leitor.

A parte do folclore começa mais ou menos pela metade do livro e ela é muito bem explorada, já que dois dos mais famosos personagens são explicados da melhor forma e de maneira terrível, devido aos acontecimentos.

Desta parte em diante, o leitor começa a se sentir vingado juntamente com os personagens, mas ao mesmo tempo sente todo o medo que se esconde, ou melhor, que não quer se esconder na noite em busca de qualquer ser vivo.

Para aqueles que cresceram escutando essas histórias de nosso folclore como a Mula sem Cabeça, o Saci, entre outros, irá relembrar de sua infância no interior quando a noite era voltada para estes contos antes de dormir, principalmente em locais mais pobres que eram apenas com luz de lamparina e o som do lado de fora eram apenas grilos e depois apenas o vento.

Por esse motivo, mesmo com um início que acaba por se tornar “cansativo”, O Escravo de Capela ainda é um livro único, provando que um autor nacional sabe escrever excelentes obras de terror, sem cair nas armadilhas dos livros dos EUA e europeus.

Ao misturar toda uma mitologia europeia, africana e portuguesa, Marcos mostra como isso tudo deu origem ao foclore nacional, munido de uma excelente descrição e que leva o leitor a um final surpreendente.

Marcos DeBrito consegue com seu livro Nasce uma Lenda: O Escravo de Capela trazer a tona de maneira direta e fria a realidade de como os escravos eram tratados em sua época, toda a tortura física e mental, além de apresentar de forma única o nosso folclore.

Sobre o livro

Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore.

Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em O Escravo de Capela, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos.

Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte.

Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.

Sobre o autor

Cineasta premiado, MARCOS DEBRITO vem sendo considerado a grande renovação na produção de filmes de suspense e terror no Brasil. Começou a escrever histórias que lhe vinham à cabeça apenas para lidar com seus próprios medos, na esperança de esconjurar seus demônios e calar as vozes que não o deixavam em paz.

O destaque de sua produção está na crueza como retrata as diferentes faces do mal, mas não é apenas isso. Todas as suas histórias contêm elementos de mistério e surpresas que desafiam o público a desvendar a mente dos personagens. Diretor, roteirista e escritor, O Escravo de Capela é seu terceiro livro publicado. Condado Macabro, seu primeiro longa-metragem, foi lançado nas salas comerciais em 2015 e vem mostrando a força de sua narrativa em festivais por todo o país e no exterior.

Resumo
Nota do Thunder Wave
resenha-o-escravo-de-capela-marcos-debritoAo misturar toda uma mitologia europeia, africana e portuguesa, Marcos DeBrito em O Escravo de Capela mostra como isso tudo deu origem ao foclore nacional, munido de uma excelente descrição e que leva o leitor a um final surpreendente nesta que é sem dúvida uma das melhores obras do terror nacional.

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