Celeste Ng já se tornou conhecida pelo seu talento em escrever histórias profundas e marcantes, principalmente com o estouro de Pequenos Incêndios por Toda a Parte. Esse ano, novamente pela Editora Intrínseca, a autora lança Os Corações Perdidos, um livro sobre racismo e xenofobia.
Através da mente de Bird, de apenas 12 anos, a trama mostra um Estados Unidos distópico, revelando através de sua percepção infantil um pouco do que aconteceu para o país se tornar antioriental. Filho de uma das consideradas líderes de uma resistência, por seu poema que dá nome ao livro ser usado como pivô para luta contra as injustiças, Bird se divide entre lidar com o abandono de sua mãe e viver nessa nova realidade, da qual é sempre perigosa, já que ele mesmo é de origem asiática.
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Celeste investe em críticas contra preconceitos, que não estão distantes da realidade atual, apenas são elevados pela criação de uma nova lei que permite que sejam exercidos livremente. A lei de Proteção dos Costumes e da Cultura Americana (PACT) culpa os chineses pelas crises do país e assim permite (e ensina as novas gerações) excluir esse povo considerado nocivo do convivio normal. Sua escrita detalhista ecoa o preconceito, sendo visivel principalmente o conhecido preconceito contra orientais que aconteceu durante a pandemia da Covid-19. Indo além, a trama ainda aproveita para abordar racismo, sinofobia e nacionalismo de forma intimista, mostrando os resultados disso nas vidas afetadas.
A autora acerta em cheio em suas manifestações contra o ódio à um povo, tão presente na vida atual. Mas seu desenvolvimento peca um pouco, principalmente em comparação com suas obras anteriores, tão intimistas e profundas. Os Corações Perdidos se desenvolve de forma lenta e extremamente detalhista, se tornando cansativo em vários momentos. A narrativa começa interessante, do ponto de vista infantil e sendo apresentado aos poucos como o novo mundo tomou forma. Entretanto, as informações se tornam rapidamente repetitivas e pioram quando na parte dois se tornam uma narração linear de toda a história.
Mesmo com seus defeitos na execução da escrita, Os Corações Perdidos é uma obra com um conteúdo notável e necessário. Usando de várias vidas sofridas, Celeste Ng faz uma crítica importantíssima ao caminho que o mundo está tomando e tenta, à sua maneira, dar um grito de resistência ao preconceito.