William Gibson, para aqueles não iniciados na literatura de ficção, é um dos principais nomes do gênero e quem criou em meados dos anos 1980 junto a escritores como Bruce Sterling e John Shirley, o gênero ficcional chamado de cyberpunk, que une informática e inquietações histórico-filosóficas com tramas pop cheias de ação e violência.
Um bom exemplo do gênero são os jogos de RPG e eletrônicos Cyberpunk 2077, que é totalmente baseado em uma das obras de Gibson, Neuromancer, Blade Runner, Ghost in The Shell, o livro Encarcerados de John Scalzi (A Guerra do Velho), Metrópolis de Thea Von Harbou, Eu, robô de Isaac Asimov e tantos outros.
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Mas o que é o Cyberpunk? O Cyberpunk é um subgênero alternativo de ficção científica, conhecido por seu enfoque de “alta tecnologia e baixa qualidade de vida” e toma seu nome da combinação de cibernética e punk alternativo. É uma maneira mais drástica de se criticar a sociedade, assim como faz os filmes de terror.
No gênero cyberpunk, nada é bonito ou esperançoso, mas sempre existirá aqueles que lutam contra o sistema e as mega corporações que destroem de várias maneiras o planeta e acabam por deixar ainda mais pobre uma boa (gigantesca) parte da sociedade.
Desta forma, Gibson prende o leitor em uma crítica ferrenha a sociedade atual. Mesmo que suas histórias passem em um futuro próximo, mas sem uma data muitas vezes precisa, é visivel como este mundo é praticamente o nosso, com os problemas políticos, econômicos, de saúde em que vivemos.
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E é desta forma que Gibson apresenta sua mais nova obra, Periféricos, lançado no Brasil pela Editora Aleph. O livro originalmente chegou nas livrarias em dezembro de 2020. Periféricos, infelizmente como acontece com os livros de Gibson, é voltado mais para aqueles já acostumados a ficção hardcore e o Cyberpunk.
Mas não que ele seja de uma leitura extremamente complicada. O início de Periféricos é difícil até mesmo para quem já está acostumado com este tipo de livro ou com o autor. De qualquer forma, Periféricos apresenta um mundo interessante e cheio de conceitos até conhecidos por qualquer um que já tenha visto algo da ficção.
O mais fascinante é ver que Gibson, não tenta “prever” um futuro como muitos críticos literários costumam colocar em seus textos, principalmente quando tem a ver com o universo de ficção. Ele apenas apresenta um futuro que segue as tendências atuais da tecnologia e mostra com mais detalhes o que elas podem se tornar.
A história de Periféricos
Flynne Fisher vive com o irmão, Burton, em uma área rural e desolada dos Estados Unidos, onde os empregos são escassos e muitos sobrevivem na clandestinidade, fazendo impressões ilegais em 3D e jogando videogame por dinheiro.
Veterano de guerra, Burton é contratado para atuar como segurança em um jogo virtual, mas um contratempo leva Flynne a assumir o posto do irmão em um dos turnos. Durante sua ronda, acidentalmente, ela testemunha um homicídio que lhe parece bem real, e logo desconfia que o jogo pode ser, na verdade, uma janela para o futuro.
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Retomando o ambiente futurista e tecnológico de Neuromancer, Periféricos se revela um thriller policial surpreendente, agudo e original, e deixa claro porque William Gibson é um dos mais talentosos escritores de nosso tempo.
O livro vale a pena?
Periféricos é um bom livro e talvez o melhor até agora de Gibson. O romance mistura uma boa dose de investigação e viagem no tempo, com personagens interessantes e curiosos. Gibson entrega ao leitor um futuro literalmente tátil, onde dá para sentir todas as sensações existentes neste local.
Mas se o futuro parece promissor, para se chegar a ele deve passar pelo passado, o nosso presente, que como acontece com muitas pessoas, assombra este provável futuro. Pode parecer confuso, mas é desta forma que o autor lida com a linha do tempo, que é a mente humana.
Isto tudo geram escolhas atuais que irão com certeza interferir com o futuro e esta é a graça de Periféricos, pois ele estimula o leitor a pensar em vários caminhos que poderia escolher e quais erros poderiam levar ele a um local melhor. E também fazer analisar o seu presente e como o passado o levou até ali.
Periféricos é um livro fascinante, mesmo que com uma leitura mais difícil para ser feita, que aborda os contínuos mundos que podem existir dependendo das escolhas dos personagens, e que faz uma crítica feroz a nossa sociedade.
O livro ganhou recentemente uma adaptação em série pela Prime Video.