Novo livro de Liane Moriarty, autora famosa por suas obras Pequenas Grandes Mentiras e Nove Desconhecidos, Segredos de Família apresenta o mesmo tratamento intimista geralmente empregado em suas obras, com uma temática bem diferenciada.
Segredos de Família possui tudo que Moriarty é conhecida por saber fazer bem. Lida com multipersonagens de maneira admirável, inserindo manias, passado e problemas estremamente satisfatórios em todos eles, enquanto critica a vida de fachada. Nesse caso, a autora apresenta a família Delaney, composta por Stan, sua esposa Joy e os quatro filhos Amy, Troy, Logan e Brooke. Uma família convencional, dona de uma escola de tênis, que parece ter o casamento perfeito. Entretanto, essa imagem é borrada quando Joy desaparece.
Stan e Joy tinham acabado de se aposentar, vendido a escola e começando a viver a vida sem uma rotina, quando Joy desapareceu. Seu sumiço gerou uma grande comoção na cidade, chegando a levantar suspeitas de assassinato, que envolvia até mesmo Stan e uma misteriosa hóspede na casa deles, Savannah. Enquanto apresenta a investigação, a narrativa mostra passado e presente, com capítulos divididos em longos e detalhados acontecimentos pelo ponto de vista de Joy ou dos filhos em relação ao passado, enquanto a investigação no presente ocupa poucas páginas em suas divisões. Isso porque sempre que um personagem narra o acontecido, explica também sua vida e psicológico, de maneira encaixada e fluida.
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Assim como toda obra de Liane, Segredos de Família se passa na Austrália e investe em saúde mental. Cada filho dos Delaney possui alguma peculiaridade psicológica- que pode ou não ter sido causada pela cobrança excessiva dos pais tem relação ao tênis-, e cada um desses distúrbios é amplamente abordado, da maneira mais natural que existe e geralmente com o portator negando sua existência. Essa análise psicológica se espande para Joy e Stan, que possuem resquícios de suas criações e carregam frustações dos pais refletidos na criação de seus filhos. Enquanto faz essas análises, a autora mostra um casamento aparentemente perfeito, mas na realidade totalmente disfuncional, que destruiu Joy ao longo dos anos até que chegou na triste situação do seu sumiço. As críticas à maneira como Joy se privou para cuidar de sua família, principalmente do marido, são claras e gritantes, mostrando um lado necessário do belo casamento convencional, que acaba com a vida da esposa sempre fadigada.
Violência doméstica, abusos, pais e mães abusivas, abandono e outras questões extremamente relevantes são tratadas através da ampla quantidade de personagens principais, que refletem suas frustações em suas ações e conforme precisam passar um tempo analisando-as, descobrem seus defeitos e alguns passados medonhos de conhecidos. Há momento mais gritantes também, com parte da investigação levantando casos de homicídios de maridos que acabaram com a vida das esposas por motivos absurdamente minúsculos- um ferro de passar é um bom exemplo.
Moriarty trabalha com detalhes e nessa obra é o grande destaque. Não apenas as pequenas questões das vidas de cada personagem são muito bem construídas- inclusive os que fogem do núcleo principal-, mas a riqueza em pequenas citações que se provam incrivelmente satisfatórias quando o mistério é revelado e junta todas as peças.
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Entretanto, mesmo com todos esses pontos positivos, Segredos em Família é o livro mais fraco da autora. A reviravolta final é interessante e totalmente inovadora, fugindo do trágico sempre empregado em seu romances, porém o longo tempo tomado para começar a encaminhar uma solução deixa um certo receio e a extensão de capítulos que fecham o ciclo de cada personagem, através de acontecimentos que parecem destoantes e inseridos com uma certa obrigação, caem um pouco a qualidade da obra.
Segredos em Família é um livro rico em detalhes e pouca ação, que consegue aguçar a curiosidade do leitor. É uma obra satisfatória, mas que não se iguala aos sucessos anteriores de Liane Moriarty, e nem por isso merece menos destaque. É uma narrativa que muda as direções habituais da autora e causa certa estranheza para quem está acostumado com seus intensos dramas. A normalidade como tudo é tratado pode deixar o leitor menos empolgado, porém a resolução do sumiço certamente ficará destacado por um bom tempo em suas memórias.
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