Scorn é uma das surpresas mais agradáveis lançadas no universo gamer dos últimos anos. O jogo, que de agradável não têm nada, é uma verdadeira arte do terror psicológico e visual baseadas nas artes dos mestres H.R. Giger, mais conhecido por ter criado a arte de Alien e Zdzisław Beksiński (24.02.1929 a 21.02.2005), um renomado pintor, fotógrafo e artista fantástico polonês que produzia suas pinturas e desenhos em um estilo que ele chamava ora de “Barroco”, ora de “Gótico”.

O jogo da Ebb Software, é sem dúvida alguma uma verdadeira arte do terror cósmico, ao misturar elementos, como de Alien, de tecnologia e biologia, ou a biotecnologia. Este terror cósmico que muitos fãs do gênero estão acostumados, envolvem clássicos como o próprio Alien, Enigma do Horizonte, A Beira da Loucura, e até mesmo os livros e suas adaptações para as telas de Stephen King, O Nevoeiro e It.
Scorn é um jogo que não possui algo inovador, mas inova ao sair da mesmice dos títulos que seguem um padrão com zumbis espaciais ou que tentam imitar a franquia Alien. Não que sejam jogos ruins, pois terrores como Dead Space, o próprio Alien: Isolation e o futuro The Callisto Protocol, são muito bons.

Só que todos estes tem algo em comum: sobreviva seguindo um tutorial e uma história. Além das trilhas sonoras impactantes, mas que irão entregar o perigo quando ele estiver por perto. Scorn está muito longe disso. O jogo da Ebb Software lembra games mais antigos sem tutorial e uma premissa básica.
O jogador apenas pega o controle e deve – como o protagonista – seguir por um local que mistura um mundo horrível de osso, carne e aço. Algo totalmente repulsivo, mas também absolutamente fascinante. E é este fascínio, por algo totalmente desconhecido, que tranforma o jogo em algo que realmente agrada aqueles que buscam uma aventura mais cerebral.
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Segundo o diretor do jogo, Ljubomir Peklar, o estilo visual de Scorn pretende desafiar o que geralmente o jogador considera como agradável. “Os seres humanos são condicionados a gostar da beleza externa de seus corpos e ver os órgãos internos, ossos e tecidos como algo repulsivo. É um reflexo”, disse Peklar sobre a direção de arte do jogo em entrevista ao Rock.Paper.Shotgun em 2016.
“Nossa existência como organismo vivo está no centro do jogo e a anatomia humana é o assunto principal. Portanto, referenciamos muitas partes diferentes dele como ponto de partida, depois as transformamos, combinamos e exageramos, alteramos as formas até obtermos algo visualmente atraente. Nem sempre se trata de funcionalidade, mas de formas interessantes que fazem sentido para o que estamos tentando expressar.”
Desta forma não é segredo algum que a equipe de Scorn mergulhou fundo no trabalho dos dois maiores artistas surrealistas: o suíço H.R. Giger e o polonês Zdzisław Beksiński. Suas obras sombrias são o destaque no ambiente do jogo. Vale destacar que Scorn não é o primeiro a fazer esta referência aos dois artistas, mas com certeza foi o mais fiel.
Peklar comentou sobre as adaptações anteriores de H.R.Giger para o site Den of Geek, onde comentou o seguinte: “Na verdade, acho que ninguém realmente fez isso da maneira certa. Não me lembro muito de Dark Seed, joguei há muito tempo. Eu sei que a arte era apenas o trabalho já estabelecido de H.R. Giger colado em segundo plano. Não foi projetado desde o início para ser um cenário em um jogo.”

Este é um dos fascínios em Scorn, pois os desenvolvedores não estavam interessados apenas em levar a arte para a tela, mas o seu real significado. “A influência visual de Giger pode ser vista de várias formas, de filmes a jogos, mas apenas superficialmente, para representar alienígenas, monstros, talvez algum planeta estranho, etc. Ninguém realmente lidou e realizou o trabalho de Giger tematicamente. Seu trabalho é a parte mais fascinante, mas sempre marginalizado, nunca o foco”, falou Peklar.
“Não se trata de mundos alienígenas, não importa quantas pessoas pensem que é disso que trata sua arte”, explicou Peklar. “Há um subtexto muito mais importante nisso. É sobre o entrelaçamento de seres humanos e tecnologia. O organismo como estrutura que definiu nossa existência até aqui, fundida com nossas próprias criações mecânicas em uma dança ridícula de libido e morte. Conceitos freudianos que tanto nos comovem quanto nos aterrorizam.”
E são estes elementos repugnantes que fizeram de Scorn um jogo de terror em um verdadeiro pesadelo. Todo o seu visual e a representatividade por trás de cada conceito artistico envolvido.
Scorn é mais do que um jogo para se sentar e apertar botões ou mesmo resolver enigmas. É quase um conceito filosófico e que faz com que o jogador interaja em um universo além do compreensível.
O jogo está disponível para o Xbox Series X|S e Microsoft Windows.