A série She-Hulk, o mais novo lançamento da Disney Plus, já tem o seu primeiro episódio disponível na plataforma de streaming e já podemos conferir as aventuras da Mulher Hulk interpretada pela atriz Tatiana Maslany. Para quem não sabe, a personagem foi criada pelo roteirista Stan Lee e pelo desenhista John Buscema. A criadora da série é a showrunner Jessica Gao que já tentou a sorte com outra personagem da Marvel, mas não rolou. No entanto, a roteirista persistiu e temos a tão aguardada versão feminina do verdão mais conhecido das telonas.
A série She-Hulk: Defensora de Heróis, narra a história da advogada Jennifer Walters, prima de Bruce Banner – o Hulk, que após sofrerem um imprevisto, ela acaba tendo contato com o sangue de Bruce. A partir daí, a vida da mulher muda completamente. Enquanto ela precisa aprender a lidar com seus novos poderes, mesmo contra sua vontade, Jennifer se torna uma heroína de muita visibilidade e que no decorrer da série terá uma grande missão.
O núcleo do primeiro episódio não é tão grande, temos a protagonista que divide alguns momentos com o ator intérprete de Hulk, Mark Ruffalo. Além de outros que possuem pouquíssimos minutos de tela. Mas mesmo assim, podemos perceber que se trata de um elenco – aparentemente – carismático. A protagonista Tatiana Maslany tem uma uma presença de tela muito forte e intensa que já pelo primeiro episódio, promete nos conquistar.

A participação de Mark Ruffalo como Hulk/Bruce ensinando a sua versão feminina o know-how de ser um super-herói rende boas sequências. Acredita-se que nos próximos episódios, a presença do intérprete de Hulk não seja tão recorrente. Um ponto positivo é que aqui, não veremos algo igual as produções antigas, já que a Marvel faz o contrário, nos apresenta uma personagem que não quer estar no núcleo para o qual foi desenvolvida.
As sequências mais legais se dão no paradisíaco refúgio de Bruce Banner no México construído para ele por Tony Stark, que é citado várias vezes. Lá, vemos um laboratório subterrâneo, onde começa o processo de controle do Hulk que vimos em O Incrível Hulk até a versão “Hulk Esperto” atual. Aqui, a meta é bem simples, é explicar o ocorrido à prima e fazê-la passar pelo mesmo longuíssimo tratamento pelo qual ele passou para controlar seu alter-ego verdão. E é a partir desse ponto que a mágica acontece e o episódio começa a andar, com Jennifer mostrando sucessivas vezes que ela é uma espécie de versão superior do Hulk, com controle de sua raiva, de sua transformação e “destransformação” e assim por diante, com a dinâmica de Maslany e Ruffalo sendo intensamente carismáticos em cena.
Com o treinamento já iniciado e as descobertas acontecem de forma rápida – vide a duração do episódio -, é possível ver que o Hulk Esperto fica todo frustrado e invejoso do progresso meteórico da prima, o que resulta em conflitos destrutivos, brincadeiras bobas e uma sucessão de situações que põe os dois em lados opostos, mas não tanto. Aqui vem a escorregada da criadora e roteirista do episódio, pois Jessica Gao, parece tratar o espectador como idiota. Já percebemos que existe uma vibe feminista e constatamos isso devido a interação da Hulk com o Hulk e o fato de querer explicar – plausível, até -, só cria diálogos superficiais e isso incomoda porque não é em uma produção ou outra e sim em várias, algo que tem sido recorrente em muitas obras das telonas e telinhas.
Algo interessante na personagem é que ela foge dos estereótipos que já temos visto no Universo da Marvel como a Viúva Negra e com a Capitã Marvel que tinham um ambiente totalmente diferente da nossa protagonista verdona. Aqui, temos uma mulher, advogada, ciente da existência de um universo cheio de heróis e vilões e assim como no mundo real, ela traz para a tela questões polêmicas que antes eram vistas como “intocáveis” nas produções da Marvel/Disney. E assim como Fleabag e Deadpool, ela quebra a quarta parede como vemos nos quadrinhos também.

Outro detalhe surpreendente é ver o quanto a produção ousou ao colocar piadas e diálogos mais maduros saindo do ambiente conservador e fechado que vemos nas produções da Disney. Diferente de outras produções da casa, não vemos uma sequência de clichês sendo jogados como uma metralhadora na cara do telespectador, respeitando a conexão trama-espectador. É importante que a sequência de fatos ocorra de uma forma natural, nem rápida demais e nem lenta demais.
Porém, nem tudo são flores. O CGI da personagem está muito ruim, embora tenha melhorado muito após as críticas anteriormente sofridas por parte do público. Outro fato que incomoda é dela parecer boa demais – ela despeja seu humor ácido sobre assuntos que até então não eram falados como a virgindade do Capitão América com o Hulk e isso faz com que esperemos além do que é permitido. O risco de frustração é altíssimo.
Em linhas gerais, o treinamento no esconderijo funciona bem, mas é quebrado pelo retorno desconectado para o presente. Parece que há uma quebra muito ríspida entre um contexto e outro. Quando Jennifer está no tribunal e do nada, a vilã Titânia (Jameela Jamil) que irrompe no local, forçando a protagonista a revelar-se como Mulher-Hulk e salvar o dia foi uma sequência bizarra. Esperava uma construção menos previsível e preguiçosa. Esse tipo de facilidade empobrece a trama. Perdeu ponto aqui.
Agora, o que temos pela frente é a jornada da personagem se redescobrindo como uma super heroína e como remete ao título, seu mais novo trabalho é usar suas práticas no Direito para ajudar outros super heróis. Para a trama andar, precisa ser mais objetiva e menos didática.