Após a estreia de um episódio de origem engraçado, porém didático, She-Hulk: Defensora de Heróis parece se adaptar rapidamente e de forma agradável no gênero sitcom de super-heróis, rendendo-se às situações bobas, mas sem perder a profundidade que é esperado da trama. A atriz intérprete da protagonista, Tatiana Maslany, consegue manter o timing perfeito quando caminha entre o drama e o cômico, sendo versátil e talentosa. Para o segundo episódio, o desafio da protagonista é lidar com as consequências depois de ter revelado o seu lado verde visto no primeiro episódio.
Em Superhuman Law, podemos perceber a luta da personagem que se vê mais como uma estranha numa terra mais bizarra ainda. Como mencionado na crítica do episódio 01, ela é uma super-heroína que não quer ser super-heroína e sim, “apenas”, uma advogada e o fato de seus poderes terem sido revelados de uma forma um tanto quanto abrupta faz com que ela não tenha mais espaço na profissão que escolheu para trabalhar, pois todos a veem como alguém em busca de holofotes ou como uma potencial ameaça de destruição em massa como visto no final do episódio passado.

O momento de sua demissão no bar, ela procurando novas oportunidades e escutando diversos “não”, o convite para o jantar em família num ambiente irritante não só para a protagonista como para nós telespectadores também – conhecemos os tios, pais e o primo idiota -, isso pela velocidade dos acontecimentos que quase se atropelam se mostram um puro material de sitcom, até mesmo a forma como ela se dirige para o espectador, trocando confidencias e caretas, é interessante e da forma como amarrado faz sentido para a trama.
Embora o ambiente familiar seja meio irritante, é importante ter essa passagem, pois dá ao personagem uma profundidade tridimensional que é importantíssima para que possamos conhecer de fato quem é a Jennifer Walters ou a Mulher-Hulk. Aqui o principal elo fica por conta da relação pai e filha. O diálogo entre Morris (Mark Linn-Baker) e sua filha é dos momentos mais marcantes do segundo episódio, pois no momento em que Jen parece ter perdido as esperanças, ela pode contar com as palavras aconchegantes do pai.
As coisas começam a ficar interessantes a partir do momento em que ela recebe uma oferta de trabalho, porém no decorrer ela é pega de surpresa. O advogado veterano Holden Holliway (Steve Coulter) aparece em um bar e revela seu interesse na profissional. Porém, na recepção de seu prestigiado escritório ele confirma que seu interesse é no alter-ego esmeralda de Jen – e solicita a transformação ali, naquele momento, como se não fosse nada demais para a protagonista -, ela se vê obrigada a se adaptar com a roupa esgarçada e com os sapatos que não lhe cabem. Mas será que vale o esforço para ter uma sala de quina toda envidraçada num alto andar? Só teremos certeza acompanhando a rotina de Jen.
O primeiro caso de Jen na nova empresa é o da condicional de ninguém menos do que Emil Blonsky (Tim Roth), mais conhecido como o Abominável, o que leva a uma sucessão de boas sequências que reafirmam a importância do esquecido – injustamente, diga-se de passagem-, O Incrível Hulk, longa de 2008 com Edward Norton. Outra sequência interessante é ver Jen falando como uma metralhadora ininterrupta com Bruce, enquanto a nós é revelado que ele está viajando pelo espaço na nave de Sakaar, fazendo com que as participações do verdão se resumam a pequenas aparições para não tirar o foco da nossa verdona carismática e ao diálogo dela com o próprio Blonsky em sua sofisticada prisão. A surpresa ficou, claro, para o final do episódio revelando que o Abominável fugira para lutar na China e aparecer em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. De fato, acontece tudo na velocidade da luz e temos até a sensação de que o episódio parece curto demais para o tanto de acontecimentos, mas se mostra uma aventura agradável e nos faz querer ver mais e logo.

Já é comum vermos nas produções do Universo Cinematográfico Marvel as conexões que cada filme faz com o MCU, em alguns momentos são desnecessárias, porém quando inseridas de forma assertiva e eficiente são agradáveis não apenas para dar uma base para a história que está sendo contada, mas para quem assiste não ficar boiando. Vemos que o trabalho de Jessica Gao não é construído a marretadas e, sim, junções mais equilibradas. No final das contas, a “destransformação” da Mulher-Hulk aparece para lembrar ao fã nostálgico que nem tudo se resume a personagens que quebram tudo.
Esse episódio no quesito roteiro e amarração, não tem muitos erros. O elenco é bem interessante e o que mais pode ser uma reclamação é o uso do CGI. Mas que também não faz muito sentido, pois a personagem de Maslany com a maquiagem digital sempre vai destoar dos demais personagens humanos porque é estranho ver um humanoide verde-esmeralda. Realmente, a computação gráfica vai destoar do mundo real no qual foi inserido. Se a série fosse toda em CGI, não perceberíamos a diferença.
Por fim, a dúvida que fica é saber qual o rumo que a série se encaminhará. A vilã do primeiro episódio “sumiu”, no segundo apareceu o Abominável… o que será que eles querem com isso? Será que teremos mais vilões? E os easter-eggs que vimos nesse episódio, será que são apenas citações como ao Gavião Arqueiro ou a tela do computador de Jen que aparecia uma matéria sobre um “Homem que luta em bar com garras de metal”, relembrando Wolverine? Ou algo diferente de todas as teorias anteriores? Para sabermos como o futuro de Jen será desenvolvido, temos que continuar assistindo aos episódios semanais. O mais importante no momento é que sim, Jennifer Walters veio para ficar.