Você obviamente estava ansioso para ver o Demolidor e acabou caindo do cavalo como eu. Mas essa virada (proposital) foi interessante, pois vemos um foco no desenvolvimento da personagem.
Em Just Jen, Jen quer algo que todos nós buscamos insanamente: o reconhecimento do nosso “eu”. Sim, bizarro. Mas todos nós buscamos pela validação do outro e se tratando de uma personagem não seria diferente. É disso que todas as críticas anteriores falam, é sobre a personagem começar a ter a sua identidade desenvolvida, o seu arco como a trama principal e não apenas como algo que deve aparecer porque tem o nome no título. Em She-Hulk: Defensora de Heróis – Just Jen, podemos ver uma retomada de quem é Jen e a personagem é muito mais do que ela imagina.
A série segue brincando com a vida amorosa de Jen e em paralelo aborda duas tramas. Uma com Jennifer em um casamento e a outra com um caso de divorcio. A ideia é simples, mas o desenvolvimento é questionável. Bora lá… Como a própria Jennifer Walters nos explica diretamente com o uso da quebra da quarta parede, Just Jen é um episódio solto, na estrutura de caso semanal que bebe do gênero sitcom que introduz novos personagens para aquela situação específica e pronto. Pois bem, Jen é convidada para ser madrinha de casamento de sua colega Lulu (Patti Harrison) e todas as suas sequências se passam no casório de sua “amiga”.

É nesse ambiente que vemos o tratamento que a noiva e as demais madrinhas dão à protagonista, revelando como Jen era vista por elas e vemos também como esse reencontro reacende as inseguranças da protagonista em relação a si. No começa, ela chega ao evento como She-hulk, no entanto é repelida pela noiva, pois seu alter ego verde irá chamar mais atenção do que a própria noiva e isso machuca um pouco a nossa personagem título, pois o que ela mais quer é que as pessoas vejam que ela é uma advogada fod*na, tem superpoderes e está bem, mas as pessoas não se importam com isso e sim se ela tá namorando ou não. A crítica do episódio está aqui: para sermos validadas precisamos ter um namorado/marido?
Seria uma trama super tranquila se uma das convidadas não fosse Titânia (Jameela Jamil), isso mesmo, ela retorna mais uma vez para provocar Jen, forçando a sua transformação em Mulher-Hulk. Felizmente, o roteiro coloca mais um obstáculo para a protagonista que está na sua jornada de auto aceitação para que ela entenda que sua versão Hulk não veio para sobressair sua versão humana e sim complementar, uma é a extensão da outra. Mas a dúvida fica: por que a personagem de Jamil não tem um aproveitamento melhor? Visto que, a atriz intérprete de Titânia tem potencial para muito mais. Enfim, algo que a produção precisa rever.

Já a segunda trama, traz desenvolvimentos interessantes para os personagens secundários envolvendo até mais personagens do MCU. E é nesse bloco que temos um pequeno problema que será abordado um pouco mais à frente. A trama secundária, por sua vez, coloca duas personagens de núcleos distintos para atuarem juntas e apresentarem uma nova perspectiva. A dupla dinâmica da vez é Mallory (Renée Elise Goldsberry) e Nikki (Ginger Gonzaga) que precisam defender um meta humano Craig (David Pasquesi), um homem que se autointitula Sr. Imortal. Todavia, ele faz jus a sua denominação ao saltar do arranha-céu da firma de advocacia GL&K e conseguir se recuperar sem maiores problemas – lembrou outro mutante do universo que tem fator de cura e já foi referenciado nos primeiros episódios da série.
A sequência é muito legal, pois ambas precisam fechar acordos com as vítimas que o Sr. Imortal lesou e enquanto Mallory vai supervisionando e orientando, Nikki – que não é advogada -, usa a sua personalidade divertida e resolve tudo na conversa, costurando acordos com as esposas prejudicadas numa cena muito boa, que demonstra todo o potencial do seriado… aqui está o erro, o grande problema dessa sequência. Era para ser Jen, a solucionadora deste caso e nos damos conta de que mais uma vez, temos um caso jurídico envolvendo um mutante e não é Jen que atua com seu conhecimento jurídico para resolver o problema. Ponto de observação: os roteiristas precisam estruturar a série em torno de casos judiciais com super-heróis e Jennifer Walters sendo a advogada que resolve ao invés de colocá-la em situações bizarras como o casamento de Lulu.

Veja bem, a ideia do casamento não é ruim, pois se por um lado foi bacana ver esse desenvolvimento da identidade dela na sua trajetória de aceitação, por outro lado, a série a colocou como uma idiota perdedora novamente e ela não é assim. Aliás, o que podíamos ter deduzido – e muitos pensaram nisso também -, era que a amiga da escola com a qual Jen não falava há tempos tinha convidado a Jennifer justamente para exibir que é amiga da Mulher-Hulk, mas no fim, foi para… humilhá-la em público? Não soou inteligente.
Tirando as confusões do episódio em relação aos desenvolvimentos dos personagens, no geral ele traz mais alguns insights como fazer um aceno à chegada dos X-Men no MCU, a Marvel está expandindo um pouco mais as ameaças em torno da Mulher-Hulk e sabemos disso porque ao trabalhar no caso de Craig, Mallory e Nikki descobrem a existência de um fórum oculto de internet que, no estilo dos chans e outros ambientes misóginos do mundo real, contém uma série de ameaças contra a integridade física de Jennifer Walters, a She-Hulk.

Mais ameaças estão por vir e o combate será inevitável para concluir a origem e a jornada da heroína verde esmeralda. A propósito, a série faz algo que foi visto pouquíssimas vezes no MCU como introduzir um assunto sério e delicado como a questão de grupos que surgem na internet com o objetivo de causar estragos na vida alheia, isso é um ponto relevante a ser abordado.
Quanto ao Demolidor, certamente a presença de Matt Murdock (Charlie Cox) deve ser direcionada para os episódios finais da primeira temporada e podemos esperar algo interessante. Mas é preciso pontuar, a série teve uma evolução positiva depois de dois episódios fracos, o sexto episódio conseguiu resgatar os holofotes para Jen, a personagem título da série e ainda adicionar um tema importantíssimo e super sensível como a misoginia e como ela se espalha online.