Por mais bizarro que pareça, o sétimo episódio de She-Hulk: Defensora de Heróis trouxe a terapia como um dos pontos mais altos e interessantes da trama. Nunca pensei que veria personagens procurando ajuda psicológica. Saúde mental sempre foi um assunto meio tabu, porém, com a pandemia, muita coisa mudou e a importância da saúde mental se tornou assunto número 01 nas empresas, nos grupos de whatsapp, nos jornais e em produções da indústria do entretenimento e surpreendentemente em uma produção da Marvel. Além disso, vemos outros avanços na construção da personagem título que ainda repete algumas falhas. No entanto, é um episódio mais humano e bem construído.
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O episódio resgata a vida amorosa de Jen. Aqui, ela tem alguns encontros com Josh, o carinha que ela conheceu no casamento de sua amiga Lulu. Inicialmente, ele parece bem legal e eles acabam dormindo juntos. Contudo, ele some e ela fica super aflita e ansiosa esperando pelo contato dele. Percebemos que essa questão do sumiço do boy não tem o objetivo de mexer apenas com ela, mas sim com quem assiste também. Quem nunca se sentiu assim após o @ dar um gelo e sumir? E ela se sente assim porque reacende sentimentos sobre o seu interior e exterior.
Todo grupinho tem aquele colega que não é tão atraente ou popular e isso faz com que não chame tanta atenção quanto os que são esbeltos ou populares e é assim que Jen se sente, ela se sente rejeitada novamente. Enquanto seu alter ego verde esmeralda atrai toda a atenção, é Jen quem carrega o fardo de não ser a escolhida. Isso mostra o quanto ela ainda precisa evoluir na sua auto aceitação – assunto que já deveria ter sido concluído, já que estamos indo para o oitavo episódio e estamos na reta final.

O episódio traz aparições diferentonas e uma delas é o retorno de Emil Blonsky (Tim Roth) que poderia ser só mais um truque para preencher o episódio, mas não. A participação dele agrega valor e profundidade ao episódio e mostra que o ex-vilão está realmente interessado em seguir em frente sendo um cara do bem. Para a sorte de Jen ou não, o oficial responsável pela condicional de Abominável, telefona a ela avisando que o inibidor de poderes do ex-vilão apresentou defeito. Receoso de dar de cara com o monstro, ele pede que a Mulher-Hulk o acompanhe, já que ela é a advogada, além de ser uma espécie de guarda-costas superpoderosa.
Contudo, chegando ao local, ambos percebem que não passou de um defeito real e que Blonsky continua se comportando e liderando um retiro espiritual para superseres. Porém, o que era para ser uma visita rápida se torna um longo dia, pois, dois personagens do universo Marvel acabam destruindo o carro da advogada durante uma briga. Forçada a ficar no local, ela acaba se juntando à terapia em grupo de Blonsky.
Agora entendemos a razão da existência do episódio e por vários motivos. Um deles é a volta de Blonsky após os capítulos iniciais, mostrando que a era zen do ex-soldado/ vilão é real. Além disso, a narrativa aproveita o retiro do vilão aposentado para dar a Jen uma chance de colocar para fora suas questões internas sem aquela máscara de sarcasmo e autoconfiança que é exigido dela.

O potencial de Tatiana Maslany já foi atestado e comprovado durante a série, mas neste episódio vemos um dos melhores momentos da trama, pois, a atriz consegue detalhar os temores, os medos e as frustrações da advogada em ser novamente rejeitada enquanto assiste a um outro lado de si mesma atrair todas as atenções. A interpretação dela consegue transmitir o conflito entre suas personalidades sem precisar repetir o que já foi feito com Bruce Banner/Hulk. O texto segue esperto ao criar situações paralelas como Jen falando de Mulher-Hulk em terceira pessoa, o ponto negativo dessa cena é o CGI que deixa a desejar.
E talvez o motivo do episódio ter incluído a saúde mental no escopo da série. Veja bem, todos os heróis do MCU tem questões internas que precisam lidar como Tony Stark, Viúva Negra, Capitão América, Gavião Arqueiro e muitos outros com o psicológico fod**o e uma das questões importantes é “como seriam os super-heróis se eles procurassem ajuda psicológica?”. O próprio Universo Marvel provocou esse questionamento no público ao contar retratar histórias que giram em torno de traumas como a de Feiticeira Escarlate. Se na vida real, acompanhamento psicológico pode trazer avanços positivos, imagine o que poderia fazer com seres superdotados?
E mais esperto ainda foi essa sacada, pois, logo os poderes da personagem título estão ligados a raiva e ansiedade, embora seja em um nível menor em Jen, isso não quer dizer que ela não sinta vontade de sair esmagando qualquer otário por aí que ouse machucá-la. A forma como ela reage ao ver um dos membros da Gangue da Demolição transmite bem o que acabei de mencionar.

Outras pautas entram em cena como a expansão de outros elementos bizarros do UCM. Temos a presença de personagens não tão desconhecidos como El Águila, Homem-Touro, Sarraceno e Porco-Espinho. Aqui nos deparamos com um problema. Já aceitamos que She-Hulk bebe do gênero sitcom e a inclusão desse grupo de personagens estranhos é até divertida. Porém, de onde eles são? O que eles fazem? Como surgiram? Por que essas fantasias? E esses nomes? Quais poderes possuem? Não adianta colocar o Porco-Espinho na tela e fazer piada sobre a falta de lavagem de seu traje apenas para divertir o público. Precisamos que seja uma introdução menos superficial, a inclusão deles não é algo explicado para quem assiste. Vemos algo aleatório.
Nas HQs isso é super comum porque não tem só a revista do Capitão América ou apenas a revista da She-Hulk em publicação, mas um arsenal de personagens ganhando suas próprias revistas e todas acontecendo em tempo simultâneo e nas adaptações, quando um personagem surge do nada é estranho. A referência que tinha tudo para valorizar o acervo da Marvel, se torna vazia quando usada dessa maneira.
Enfim, esse foi um dos pontos observados que precisam de ajustes para futuras introduções aleatórias. Continuando na jornada de Jen, ela consegue se conectar consigo e deixar o babaca do Josh no passado. Infelizmente, nós ficamos sabendo que o mocinho não é quem a protagonista pensa que ele é. Nos minutos finais, o capítulo mostra que ele tem ligações com o “Rei Hulk”, o moderador do fórum de haters da Mulher-Hulk. E pior, que ele dormiu com a advogada para roubar os dados de seu celular e se gabar de ter passado a noite com a moça.
Preparada para finalizar sua primeira temporada com mais dois episódios a serem lançados, a série tem mostrado um bom desempenho até aqui. O que esperamos é um final digno que a Mulher-Hulk merece. É uma personagem muito boa para ser desperdiçada por bobagens.