Ao longo da história, preconceito e estereótipos surgiram para minimizar e/ou desvalorizar os homossexuais. Na Segunda Guerra Mundial, muitos sofreram com as políticas segregacionistas do regime nazista e, com o passar do tempo, os ataques foram ficando cada vez mais intensos. No ano de 1969 surgiu a data que marca o início do movimento gay pelo mundo. No dia 28 de junho daquele ano, muitos homossexuais que estavam no bar Stonewall, em Nova York, revoltaram-se contra a perseguição feita por policiais e este dia tornou-se a data do movimento LGBT.
Desde então, muitas são as reivindicações da comunidade, entre as quais o combate à homofobia, é a pauta principal no país, já que o Brasil é o lugar onde mais se agride e mata gays, lésbicas, bissexuais e em especial, travestis e transsexuais. Por isso, há a necessidade de dar visibilidade a estas pessoas. Levando em consideração essa premissa, como garantir-lhes sua inclusão? Como adotar políticas públicas que os reconheça como cidadãos? Como dar suporte à essas pessoas nos âmbitos profissional, social e, até mesmo, em relação à saúde? Esses são os desafios que muitos enfrentam quando se apresentam como membros dessa minoria.
É fundamental a construção de conteúdo para esse público que mesmo nomeado de minoria, é uma grande parcela da sociedade. Segundo a da Secretaria de Turismo, a parada LGBT de 2019 movimentou R$ 403 milhões, 40% maior do que o apontado na edição de 2018. Além disso, o número de visitantes aumentou em 78%. Esses dados demonstram um grande poder de compra desse público, sem contar que de acordo com o IBGE (Índice Brasileiro de Geografia e Estatística) a população homossexual no Brasil é estimada em 20 milhões.
Pensando nisso, com tem sido no audiovisual? A comunidade LGBT é vista além do aspecto da sexualidade ou ainda persistem os estereótipos criados para desvalorizar essas pessoas? Será que os cineastas conseguem representar a homossexualidade em sua complexidade, não de uma maneira estereotipada ou negativa? A discussão do tema leva em consideração a premissa de que os conteúdos publicados pela mídia tradicional não possuem a intenção de trazer representação ao público LGBT e, por isso, não dão prioridade à voz dessa comunidade, e nem a matérias voltadas exclusivamente para esse público, onde poderia haver a troca de experiências dos leitores, trazendo a representatividade e a sensação de pertencimento dessa comunidade. Por isso, esse top é dedicado a essa comunidade. Confira abaixo.
A Garota Dinamarquesa

Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.
Complicado, sensível, instigante, delicado, emocionante. Em certos momentos, o filme com sua esplendorosa fotografia alinhada com um roteiro magnifico. Quem é a garota dinamarquesa do título? Na verdade, deveria ser As Garotas Dinamarquesas, pois se trata da coragem, da força e do amor de ambas e nessa história, muita coisa foi ganha, mas muita coisa foi perdida e na busca do nosso “eu”, precisamos mais do que qualquer coisa, de apoio, respeito e compreensão.
Moonlight: Sob A Luz Do Luar

Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. Moonlight é mais que um simples filme, é uma reflexão sobre a realidade que muitas pessoas vivem em busca de uma identidade. Um filme sensível para contar a história de um garoto negro passeando por temas como bullying, preconceito, drogas, descobertas sexuais tudo diante de um olhar atento do personagem em todas as fases de sua vida: como criança se descobrindo, na adolescência com os problemas aflorando e enfim na fase adulta com o mundo a seus pés.
Me Chame Pelo Seu Nome

O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega. É um filme envolvente, tem ótimas paisagens e um roteiro incrível. Os atores não são caricatos o que deixa o longa ainda melhor. Um filme que retrata a homossexualidade da forma mais doce e amarga possível.
Rocketman

A trajetória de como o tímido Reginald Dwight (Taron Egerton) se transformou em Elton John, ícone da música pop. Desde a infância complicada, fruto do descaso do pai pela família, sua história de vida é contada através da releitura das músicas do superstar, incluindo a relação do cantor com o compositor e parceiro profissional Bernie Taupin (Jamie Bell) e o empresário e o ex-amante John Reid (Richard Madden). É muito mais fácil para um gay se aceitar, quando ele vê a história dele sendo contada no cinema, na novela, enfim, sendo representada. E da mesma forma que é mais fácil ele se aceitar, é mais fácil de ele não se aceitar devido a grade repercussão de comentários e reflexões maldosas existentes nas redes sociais, nos sites, em propagandas, enfim, na sociedade e isso retrai o seu íntimo, que sofre por não ser quem realmente quer ser. Nós precisamos de um espelho para nos guiar e são nesses personagens que encontramos características semelhantes à nossa, para nos encontrarmos diante dos outros. E de certa forma, Rocketman faz isso.
Carol

A jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha. Carol, que está se divorciando de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida. As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos. Esse longa não tem a pretensão nem a premissa de ser um filme polêmico, mais de uma história de amor, emociona mais do que choca. A direção de Todd Haynes é puramente conceitual e sensível, nada é expositivo ou melodramático. É uma produção sublime e maestral.