Em sua grande maioria, as obras baseadas em Vikings, mostram sempre homens e conquistadores gritando o nome de Odin ou Thor. São raros os livros, filmes, séries ou jogos, que trazem um pouco mais da cultura deste povo. A Senhora da Tundra, de Paola Giometti, lançado no Brasil pela Culturama Editora, é um grande diferencial. O livro já começa apresentando um guia de pronúncia para que o leitor saiba como falar os nomes de pessoas e locais do livro, assim como um mapa de onde é situada a história.

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Este já é um belo diferencial. De acordo com a escritora, “usei elementos culturais do norte para inserir na mitologia, como se tentasse tornar a mitologia mais paupável e viva. Por exemplo, os elfos da mitologia e que estão no meu livro são derivados do povo sámi, que é o povo nativo, milenar escandinavo também conhecido como lapões, além de terem maior conexão com a natureza, sua forma antiga de fazer casas, roupas”, disse Paola.

“Eu também trouxe as noites polares como os dias em que as pessoas mais se alimentam de bacalhau salgado, pois assim armazenam o alimento de modo que não precisem sair de suas casas para pescar e ter o azar de se deparar com um draugr esfomeado. Outro ponto foi o usar os pântanos com turfa para criar draugar, já que este tipo de ambiente, por tem um ph especial, é famoso por conservar os corpos dos que morreram por lá. Além de inúmeros outros detalhes de como a natureza é e a ferocidade do frio. Acredito que esta experiência viva deu suporte para tentar criar uma mitologia que, mesmo sendo fantasiosa, poderia dar um sentimento mais “real””, finalizou.

O livro

A Senhora da Tundra possui uma narrativa de fantasia e uma mistura de mitologia. Alguns autores costumam se perder quando trabalham este gênero, ao tentar levar o leitor por um mundo que ele mesmo não soube criar. Já A Senhora da Tundra, possui alguns elementos de excelentes histórias de RPG e é totalmente crível e fácil de entender.

Seus personagens são carismáticos, principalmente Jarnsaxa, protagonista do livro. Durante a jornada, o leitora ainda será apresentado a outros personagens igualmente memoráveis e que bem poderiam ganhar uma história própria. E isto é o interessante de A Senhora da Tundra, pois o leitor com certeza irá querer saber mais sobre o passado de muitos deles e como aquilo tudo aconteceu.

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Outros que aparecem, também são igualmente importantes, mesmo que estejam apenas em um único capítulo. É como o livro A História Sem Fim de Michael Ende, onde sempre que um personagem é apresentado mas não dará continuidade a jornada, é deixado a frase “esta é uma história para ser escrita em outra ocasião”, ou algo assim. E realmente é esta a vontade. Mas diferente da obra de Michael Ende, Paola Giometti possui um livro menos fantasioso (não que A História Sem Fim seja ruim, pelo contrário), algo que mistura o suspense, mitologia e aventura.

Um dos grandes pontos altos, é a sua trama que segura o leitor. A narrativa de A Senhora da Tundra é bem envolvente, onde o leitor irá seguir Jarnsaxa na busca da única pessoa que poderá enfrentar o rei Drakkar. Durante cada capítulo, é descoberto um pouco mais a respeito dela e deste mundo, mas principalmente de uma mulher que foi raptada quando criança e jamais teve a opção de escolher quem ela é.

É interessante ver como Paola Giometti consegue fazer um paralelo dos abusos sofridos pelas mulheres de uma forma tão simples, mas direta. A luta de Jarnsaxa não é apenas para salvar este mundo, mas também para se fazer ser respeitada sem ter que a todo instante ter que levantar uma espada.

Em um universo cheio de conflitos do bem contra o mal e de homens tóxicos que muitas vezes parecem de nossa sociedade, Paola Giometti segue com uma aventura envolvente em A Senhora da Tundra, com uma personagem forte, carismática e cheia de camadas. Este e com certeza um livro para todo fã da cultura nórdica.

Sobre o livro

Quando a longa noite polar estendia seu manto de escuridão sobre o mundo, os nórdicos sabiam que seriam caçados, pois os draugar estavam vindo. Esses seres malditos, que comiam carne de mundanos. Eles, que já foram humanos e deveriam estar sob a terra, mas na morte se entregaram a Grafvölludr-Gulon, a serpente devoradora de homens que lhes deu uma nova existência. Jarnsaxa é uma bastarda do rei Drakkar, que comanda todos os draugar. Atormentada por uma revelação do passado que envolve o seu rei, a Ursa da Tundra – como é conhecida – se torna uma desertora e inicia uma busca por vilarejos, montanhas e santuários à procura de um homem que dizem ser um enviado das Nornas e de Odin e que poderá matar Drakkar. A Senhora da Tundra se passa em um período obscuro da Era Viking, quando os escandinavos acreditavam que os deuses os haviam abandonado. A história é um convite para o leitor adentrar no folclore, na mitologia e na magia nórdicos, percorrendo cenários fantásticos e um enredo épico, repleto de cenas de batalha e personagens memoráveis.

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