Livros, peças teatrais, inclusive HQs costumam ser uma fonte de inspiração fundamental para a indústria audiovisual. Das tirinhas para o cinema, a obra Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente mescla stop motion, comédia, documentário e road movie numa única produção que está  presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e podemos dizer que o que prometeu entregar… conseguiu. Além disso, a produção ganhou o principal prêmio da Mostra Contrechamp, em Annecy, que é o maior festival de animação do mundo.

Em Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente, é evidenciado o humor e a estética típica da obra de Angeli, o longa intercala momentos de animação com depoimentos do próprio cartunista numa espécie de entrevista, harmonizando com a  história de ficção de Bob Cuspe com o documental sobre como se deu o processo de criação do cartunista, que relembra momentos do passado. 

O longa é bem honesto ao retratar um momento da vida que chega para qualquer artista, a crise criativa. No longa, o protagonista Bob Cuspe, um velho punk, tentando escapar de um deserto pós apocalíptico, que na verdade, é um purgatório na mente de seu criador, o cartunista Angeli, que está passando por uma crise criativa.

Longa de ex-aluno marca presença no principal festival de animação do mundo  | ECA - Escola de Comunição e Artes
Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente se passa dentro e fora da mente do cartunista Angeli / Reprodução Coala Filmes

O filme teve sua primeira sessão na 45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, no sábado (23), no CCJ Ruth Cardoso, às 19h. Depois disso outras sessões, no Petra Belas Artes (25/10, às 13h30), no Espaço Itaú Augusta (27/10, às 16h), e no Vão Livre do MASP (29/10, às 19h30, sessão gratuita). 

Uma grande notícia para quem é fã não só do personagem, mas tem curiosidade de se aventurar pelos bastidores de uma produção animada, poderá conferir a oficina “Bob Cuspe – processos de produção de um longa animado“, cujas inscrições foram abertas desde a última quarta, 20/10, no site da Mostra e contará com o diretor do filme, Cesar Cabral, ao lado de outros profissionais da equipe do longa, ministrando a oficina que acontecerá de forma online entre os dias 25 e 28 de outubro, das 19h30 às 21h. O objetivo é apresentar o universo da animação stop motion e suas características particulares na produção audiovisual, e os ministrantes abordarão diversas etapas da realização de uma produção do gênero. Na oficina, Cabral, falará sobre a direção e sobre bonecos para stop motion, e Leandro Maciel, do roteiro; Alziro Barbosa, de fotografia; e André Abujamra e Márcio Nigro, sobre música

Acesse aqui para fazer sua inscrição.

O filme conta com a dublagem de Milhem Cortaz, Paulo Miklos, André Abujamra, Grace Gianoukas e Laerte. É interessante relembrar que a obra Chiclete com Banana, um dos quadrinhos mais irreverentes dos anos 80. Angeli, introduziu muitas de suas ideias, incluindo o punk anarquista Bob Cuspe com o seu visual que nunca sai de moda: moicano e jaqueta de couro. O quadrinho chegou a vender mais de 120 mil cópias por edição. Outros personagens famosos do cartunista são a diva boêmia Rê Bordosa e a dupla hippie Wood & Stock. Vale lembrar que o cartunista se tornou famoso nos anos 70 com o lançamento de charges políticas em meio à ditadura militar brasileira e com um senso de humor ácido, representava  a sociedade, o dia-a-dia e os costumes do Brasil.

Confira cenas da animação 'Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente' -  09/06/2021 - Ilustrada - Fotografia - Folha de S.Paulo
A invasão pop no mundo é representada por Eltons Johns mutantes e carnívoras / Reprodução Coala Filmes

O diretor César Cabral,  em sua terceira colaboração em stop motion com Angeli, onde o cartunista está em uma espécie de perambulação no reencontro com seus personagens. Aqui, Angeli fala sobre sua trajetória e entre um rabisco, um trago ou um gole de bebida, ele decide os caminhos que os personagem podem trilhar e a adaptação permite que o espectador entre na história devido às reações de cada um e o fato de o mundo estar seco de ideias originais e ter sido corrompido pelo pop (monstrinhos a la Elton John fazem a referência desse movimento) é algo bem marcante. Além disso, vemos que Angeli sente o eco da popularidade advinda pelos personagens, que tentam sobreviver à crise do artista em criar mais e mais problemas e como a resistência punk de Bob Cuspe impera sobre tudo isso.

Uma sacada genial foi a participação da esposa do quadrinista, Carol, que completa as lacunas na história quando Angeli está de saco cheio para gravar depoimentos em seu estúdio. Também tem uma participação muito pontual da Laerte, que serve também para preencher algumas informações. O longa é fluido, diverte com o humor ácido, os personagens são interessantes. Porém, a trilha sonora que poderia ousar e ser um aspecto de destaque… fica sem graça. Temos os Titãs, mas só eles é muito pouco. Faltou capricho nesse ponto. Outra coisa que teria feito a diferença seria a participação maior da Rê Barbosa, ou até uma parcela maior dedicada aos irmãos Kowalski – ambos com a voz de Paulo Miklos.

Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente será lançado no Brasil pela Vitrine Filmes, com estreia nacional no dia 11 de novembro.

Resumo
Nota do Thunder Wave
critica-bob-cuspe-nos-nao-gostamos-de-genteO longa é um filme mais adulto com uma pegada punk, divertida e bem atual. Com personagens incríveis, a direção e o roteiro estão bem amarrados, as dublagens estão perfeitas. A única coisa que faz com que o longa não esteja 100% completo é a trilha sonora que poderia ter sido mais ousada ao contemplar mais hits da era punk dos anos 80, tirando isso, é um bom entretenimento para relembrar os velhos e bons tempos de Bob Cuspe.

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