Em Os Crimes de Nova Esperança, Farias é um detetive de polícia que simplesmente desistiu de fazer seu trabalho, esgotado por uma luta inútil contra um sistema corrupto demais para ser enfrentado e odiado por todos os colegas. Após a morte de seu tio, consegue uma transferência da capital para sua cidade natal, Nova Esperança, onde espera encontrar um pouco de paz e sossego. O que ele jamais imaginava era se deparar com uma cena de crime repugnante, envolvendo uma jovem que teve todos os pelos do corpo raspados e o sangue drenado. Em sua investigação, que se desdobra em mais desaparecimentos e assassinatos, Farias descobre segredos que desagradam gente importante. E afinal, vê-se novamente numa luta contra tudo e contra todos, na qual o que está em jogo é sua própria vida.

É sobre essa premissa que se desenvolve o thriller nacional de Ricardo Fonseca, que através de uma investigação de um crime bem incomum, apresenta uma pequena cidade cheia de corrupção e pessoas duvidosas, que parecem não ter se livrado de uma cultura de donos de terra e aproveitadores. O corpo de uma mulher jovem é encontrado completamente nu, sem vestígios de sangue, pelos e cabelos, próximo ao clube de campo de Nova Esperança. A situação chocante do corpo impressiona o investigador, que acaba encontrando mais dois corpos deixados da mesma maneira e começa a ser assombrado por essa investigação.

Paralelamente, a narrativa apresenta a história de fundação de Nova Esperança, que junta a vinda de imigrantes suíços com a libertação de Quilombolas em seu passado, e mescla entre os capítulos o desenvolvimento pessoal de cada personagem, que se relacionam – complicadamente – entre si, afinal, é uma cidade pequena onde nada fica escondido por muito tempo.

Fonseca usa a investigação para mostrar a corrupção da cidade e assim procurando fazer uma crítica social importante. Entretanto, se perde na narrativa com muitos fatos repetidos, que deixam de lado a premissa principal para aprofundar demais nessa crítica, o que torna o desfecho um tanto previsível. Na tentativa de levar gradativamente os acontecimentos a um final construído, há muitas menções repetidas da mesma informação que acabam atrapalhando um pouco a qualidade da escrita e deixam o crime em si muito vazio. Falta empatia com a vítimas, o que torna essa parte do livro pouco interessante já que o crime, que deveria ser o motim principal para prender o interesse do leitor, é deixado para segundo plano.

A construção de personagens merece destaque. O autor sabe trabalhar muito bem essa parte, mas novamente se perde no excesso de detalhes. Longos capítulos sobre os casos amorosos muito descritivos e a mesma informação passada em falas e narrativa atrapalham a desenvoltura da trama, que se mostra muito interessante na construção, mesmo com falhas na execução. Alguns elementos culturais super interessantes acabam sendo deixados de lado ao longo dos capítulos, fazendo falta para o leitor que já estava interessado nesse crescimento. Principalmente ao que remete a Eduardo, que é médium e apresenta a cultura do Candomblé, sem que isso interfira de qualquer maneira na trama, além de ficar totalmente perdido ao longo dos acontecimentos, mostrando que havia muito mais a ser explorado nesse ponto.

Os Crimes de Nova Esperança apresenta uma interessante crítica social e personagens bem construidos, mas se perde no excesso de descrição e informações repetidas enquanto deixa o crime, que deveria ser a motivação da trama, para segundo plano. É uma história interessante, com um fundo revelante de crítica social, porém deixa a impressão de que poderia ser muito mais.

Resumo
Nota do Thunder Wave
resenha-os-crimes-de-nova-esperanca-ricardo-fonsecaOs Crimes de Nova Esperança apresenta uma interessante crítica social e personagens bem construidos, mas se perde no excesso de descrição e informações repetidas enquanto deixa o crime, que deveria ser a motivação da trama, para segundo plano.

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