A Netflix vem tentando conquistar o público com dramas mais voltados para espionagem, porém, não foi muito feliz nas suas produções. As que se sobressaíram foram O Recruta com Noah Centineo e Segurança em Jogo, mas nada tão excepcional assim. Contudo, foi recentemente lançado O Agente Noturno que pode enfrentar muito bem Jack Ryan da Amazon Prime Video ou Slow Horses da Apple TV+. A primeira temporada de The Night Agent conta com dez episódios e tem tudo o que se espera de uma produção de espionagem: mortes, conspirações, traições e uma ameaça nacional.

É impossível assistir um único episódio, quem começa a ver o primeiro só se sente satisfeito após assistir à temporada inteira. O Agente Noturno é uma obra de espionagem repleta de reviravoltas, revelações e conspirações baseada no romance homônimo de Matthew Quirk que foi publicado em 2019. Isso quer dizer que a série da Netflix é uma obra perfeita? Não. Mas contando com o bom senso do espectador de encarar situações dignas da franquia Missão Impossível com uma pitada de humor, boas cenas de pancadaria e de suspense, além da bom desempenho de Gabriel Basso que com o seu olhar acolhedor e os seus fortes braços – ele é gato -, consegue se destacar entre os concorrentes. 

A ideia é bem simples: um agente do FBI isolado em uma sala sem janelas no subsolo da Casa Branca cuja única função é ficar à disposição para atender um telefone ultrassecreto que nunca toca. Numa noite inesperada, recebe uma ligação de uma jovem que está prestes a ser assassinada. Logo, o que aparentemente era uma situação inédita, ganha proporções gigantescas. O agente em questão é Peter Sutherland (Basso) que, um ano antes, impediu um atentado terrorista no metrô, mas acabou sendo acusado do crime pelos conspiracionistas de plantão, o que atrapalhou sua carreira e a quase vítima é Rose Larkin (Luciane Buchanan), uma empresária do ramo de cibersegurança que acabou de falir e de ver seus tios serem assassinados. Sem perder tempo, ambos se conhecem pessoalmente e a história, então, começa a se desenvolver com mais camadas.

Crítica | O Agente Noturno 1
Hong Chou será protagonista de grandes reviravoltas / Reprodução Netflix

Bebendo de produções como 24 Horas e da franquia Bourne, O Agente Noturno traz um protagonista bem preparado fisicamente, que precisa correr contra o tempo para resolver um problema, além de abordar as forças militares e políticas americanas em uma perspectiva defensiva, localizando inimigos internos e externos que tentam minar os figurões do governo de alguma forma, mas com uma pegada tímida em direcionar um olhar mais crítico para o tratamento dos Estados Unidos para com seus próprios soldados. No entanto, a série da Netflix consegue inovar, pois diferente da série Bourne, o protagonista Peter Sutherland está bem longe de ser uma figura famosa como Jason é na sua franquia. Aqui ele é um agente de baixo escalão, alguém responsável por um telefone preto e que ainda carrega o fardo de ser filho de um agente traidor.

Em O Agente Noturno vemos outras subtramas que parecem seguir em paralelo, mas todas elas culminam num ponto só. Apesar de todas as situações impossíveis, é possível ver que a série consegue se segurar bem, evitando desvios narrativos desnecessários e mesmo que introduza histórias como a da filha do vice-presidente dos EUA, vemos um propósito. Logo percebemos que o roteiro soube seguir uma linha direta e apostar mesmo que numa receita já conhecida, mas sem desperdiçar tempo, dinheiro e o seu elenco com situações desnecessárias. É uma trama com começo, meio e fim, além de obedecer a uma lógica coesa e coerente. É uma produção que emana qualidade.

Para além do trabalho bem feito dos roteiristas, o elenco está muito bem em tela. O protagonista, Gabriel Basso, pode não estar no nível, por exemplo, de John Krasinski na série Jack Ryan, mas consegue ter nuances de sentimento como demonstrar sofrimento, dor, insatisfação e até alegria sem parecer que está se esforçando ou atuando, além-claro, de dar a vida a um agente que não consegue fugir de um passado complicado que remonta à sua adolescência e a suspeita de que seu pai, também agente do FBI, foi um traidor. Foi, portanto, uma escalação inspirada que conseguiu fazer a diferença em O Agente Noturno

Crítica | O Agente Noturno 2
Luciane Buchanan é Rose e Gabriel Basso é Peter em O Agente Noturno / Reprodução Netflix

O cast feminino também está à altura com Hong Chou (O Menu e A Baleia), que nos surpreendeu com sua personagem aparentemente centrada, competente, mas que sabe jogar o jogo da conspiração e fez a todos de bobos. E a dupla de Basso, Luciane Buchanan que traz uma quase vítima determinada e corajosa, além de muito inteligente. Ela não é uma mocinha que precisa ser salva, ela é a parte complementar do protagonista e ambos funcionam muito bem em tela. Outro detalhe que reforça a boa quimica dos personagens é que o clima de desconfiança contrasta com a tentativa de estabelecer um relacionamento entre Peter e Rose, que flertam praticamente desde o primeiro contato – no esforço para criar essa tensão sexual, o texto os coloca com frequência em ambientes apertados.

Em O Agente Noturno, também conhecemos Chelsea (Fola Evans-Akingbola), agente do Serviço Secreto responsável pela segurança da filha do vice-presidente, Maddie (Sarah Desjardins), que escancara o trabalho duro que muitas mulheres enfrentam para terem uma posição de destaque e seu novo parceiro, Erik (D. B. Woodside), um agente de volta ao serviço após levar um tiro para salvar o ex-presidente e que mostra a dificuldade de adaptação em relação à nova geração. A trama consegue abrir espaço para outros temas, mesmo que de forma superficial ou pouco trabalhada, são importantes. A série também dá espaço aos assassinos vividos por Phoenix Raei e Eve Harlow (eles nunca ganham nomes) em boas cenas que os retratam como violentos agentes do caos, embora eles queiram desfrutar de uma vida normal, eles sabem que é impossível.

Com 10 episódios que variam de 44 a 56 minutos, a série foi renovada para uma segunda temporada que, deverá contar uma história desconectada dessa primeira. Shawn Ryan soube entregar uma série com uma trama de qualidade e com um elenco carismático e competente. Ansiosa para a próxima temporada. 

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